Mais Nada se Move em Cima do Papel
mais nada se move em cima do papel
nenhum olho de tinta iridescente pressagia
o destino deste corpoos dedos cintilam no hĂșmus da terra
e eu
indiferente Ă sonolĂȘncia da lĂngua
ouço o eco do amor hå muito soterradoencosto a cabeça na luz e tudo esqueço
no interior desta ùnfora alucinadadesço com a lentidão ruiva das feras
ao nervo onde a boca procura o sul
e os lugares dantes povoados
ah meu amigo
demoraste tanto a voltar dessa viagemo mar subiu ao degrau das manhĂŁs idosas
inundou o corpo quebrado pela serena desilusĂŁoassim me habituei a morrer sem ti
com uma esferogråfica cravada no coração
Poemas sobre Dedos de Al Berto
4 resultadosCorpo
corpo
que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocĂȘncia nua
dum lĂrio cujo caule se estende e
ramifica para lå dos alicerces da casaabre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os ĂłrgĂŁos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservadomas olho para as mĂŁos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunaslevanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sĂsmico do mundo
Rumor dos Fogos
hoje Ă noite avistei sobre a folha de papel
o dragĂŁo em celulĂłide da infĂąncia
escuro como o interior polposo das cerejas
antigo como a insĂłnia dos meus trinta e cinco anos…dantes eu conseguia esconder-me nas paisagens
podia beber a humidade aérea do musgo
derramar sangue nos dedos magoados
foi hĂĄ muito tempo
quando corria pelas ruas sem saber ler nem escrever
o mundo reduzia-se a um berlinde
e as mĂŁos eram pequenas
desvendavam os nocturnos segredos dos pinhaisnĂŁo quero mais perceber as palavras nem os corpos
deixou de me pertencer o choro longĂnquo das pedras
prossigo caminho com estes ossos cor de malva
som a som o vegetal silĂȘncio sĂlaba a sĂlaba o abandono
desta obra que fica por construir… o receio
de abrir os olhos e as rosas nĂŁo estarem onde as sonhei
e teu rosto ter desaparecido no fundo do marficou-me esta mĂŁo com sua sombra de terra
sobre o papel branco… como Ă© louca esta mĂŁo
tentando aparar a tristeza antiga das lĂĄgrimas
Os Amigos
no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindĂĄveis areiastinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as mĂĄscaras
esculpidas pelo dedo errante da noiteprendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lĂvido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidĂŁo transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lumeofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausĂȘncia