Poemas sobre Dia de Alberto Caeiro

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Poemas de dia de Alberto Caeiro. Leia este e outros poemas de Alberto Caeiro em Poetris.

Se Depois de Eu Morrer, Quiserem Escrever a Minha Biografia

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias sĂŁo meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que nĂŁo pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senĂŁo um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas sĂŁo reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.

É Talvez o Último Dia da Minha Vida

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mĂŁo direita,
Mas nĂŁo o saudei, para lhe dizer adeus.
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada.

Poder Crer em Santa Bárbara

Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme…
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caĂ­rem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos …

Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguĂ©m…

Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou…
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
TranqĂĽilamente, como o muro do quintal;
Tendo idéias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor…

Sentia-me alguém que nossa acreditar em Santa
Bárbara…
Ah, poder crer em Santa Bárbara!

(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)

(Que artifĂ­cio!

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Bendito Seja o mesmo Sol de outras Terras

Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmĂŁos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham
como eu,
E, nesse puro momento
Todo limpo e sensĂ­vel
Regressam lacrimosamente
E com um suspiro que mal sentem
Ao homem verdadeiro e primitivo
Que via o Sol nascer e ainda o nĂŁo adorava.
Porque isso é natural — mais natural
Que adorar o ouro e Deus
E a arte e a moral …