Poemas sobre Espera de João de Deus

3 resultados
Poemas de espera de João de Deus. Leia este e outros poemas de João de Deus em Poetris.

A Caridade

Eu podia falar todas as línguas
Dos homens e dos anjos;
Logo que não tivesse caridade,
Já não passava de um metal que tine,
De um sino vão que soa.

Podia ter o dom da profecia,
Saber o mais possível,
Ter fé capaz de transportar montanhas;
Logo que eu não tivesse caridade,
Já não valia nada!

Eu podia gastar toda afortuna
A bem dos miseráveis,
Deixar que me arrojassem vivo às chamas;
Logo que eu não tivesse caridade,
De nada me servia!

A caridade é dócil, é benévola,
Nunca foi invejosa,
Nunca procede temerariamente,
Nunca se ensoberbece!

Não é ambiciosa; não trabalha
Em seu proveito próprio; não se irrita;
Nunca suspeita mal!

Nunca folgou de ver uma injustiça;
Folga com a verdade!

Tolera tudo! Tudo crê e espera!
Em suma tudo sofre!

Espera!

Uivaria de amor a féra bruta
Que pela grenha te sentisse a mão!
E eu não sou féra, pomba! Espera! Escuta!
Eu tenho coração!

Não é mais preto o ébano que as tranças
Que adornam o teu collo seductor!
Ai não me fujas, pomba! que me canças!
Não fujas, meu amor!

A mim nasceu-me o sol, rompeu-me o dia
Da noite escura d’olhos taes, mulher!
Não me apagues a luz que me alumia
Senão quando eu morrer!

Eu não te peço a ti que as mãos de neve,
Os dedos afusados d’essas mãos,
Me toquem estas minhas nem de leve…
Seriam rogos vãos!

Não te peço que os labios nacarados
Me deixem esses dentes alvejar,
Trocando, n’um sorriso, os meus cuidados
Em extasis sem par!

Mas uivando de amor a bruta féra
Que pela grenha te sentisse a mão,
Eu não sou féra, pomba! escuta, espera!
Eu tenho coração!

Amor Místico

Quando a minha alma nasceu
Para onde olhou primeiro,
E viu tudo um nevoeiro,
Foi lá cima para o céu…
Que a alma nunca lhe passa
De ideia a fonte da graça!

Em toda a ânsia de luz,
Em toda a ânsia de gozo,
Sempre aquele olhar ansioso
Nesse ideal de Jesus…
Nesse bem que não se exprime…
Êxtase de amor sublime!

Olhava da solidão,
Onde se sentia presa,
Com a natural tristeza
Dos ferros de uma prisão…
À espera sempre da hora
Que lhe raiasse a aurora!

Bem a chamavam de cá
Sempre os cuidados do dia;
Ela, que nunca os ouvia,
Olhava, mas para lá…
Donde ela mesmo viera,
Donde todo o bem se espera!

Um dia (nem eu sei qual,
Que em suma foi isso há tanto!)
Vê com uns olhos de espanto
Romper-se a névoa geral;
E como um sol recortado
Nesse mar enevoado…

E dentro desse clarão,
Como em círculo de prata,
Que imagem se lhe retrata,
Fosse verdade ou visão?

Continue lendo…