De Longe Te Hei-de Amar
De longe te hei-de amar
– da tranquila distĂąncia
em que o amor Ă© saudade
e o desejo, constĂąncia.Do divino lugar
onde o bem da existĂȘncia
Ă© ser eternidade
e parecer ausĂȘncia.Quem precisa explicar
o momento e a fragrĂąncia
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogĂąncia?E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violĂȘncia,
cumpre a sua verdade,
alheia Ă transparĂȘncia.
Poemas sobre Estrelas de CecĂlia Meireles
8 resultadosRomantismo
Quem tivesse um amor, nesta noite de lua,
para pensar um belo pensamento
e pousĂĄ-lo no vento!Quem tivesse um amor – longe, certo e impossĂvel –
para se ver chorando, e gostar de chorar,
e adormecer de lĂĄgrimas e luar!Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas,
partisse por nuvens, dormente e acordado,
levitando apenas, pelo amor levado…Quem tivesse um amor, sem dĂșvida e sem mĂĄcula,
sem antes nem depois: verdade e alegoria…
Ah! quem tivesse… (Mas, quem teve? quem teria?)
Atitude
Minha esperança perdeu seu nome…
Fechei meu sonho, para chamĂĄ-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.O Ășltimo passo do destino
pararĂĄ sem forma funesta,
e a noite oscilarĂĄ como um dourado sino
derramando flores de festa.Meus olhos estarĂŁo sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irĂĄ brotando
atrås das lembranças ardentes.
Criança
Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, â e resiste,Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e nĂŁo sabe mais o que sente…Cabecinha boa de menino mudo
que nĂŁo teve nada, que nĂŁo pediu nada,
pelo medo de perder tudo.Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a ĂĄgua do mundo
para mirar seu desencanto.Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que nĂŁo possuiria.
Gaita de Lata
Se o amor ainda medrasse,
aqui ficava contigo,
pois gosto da tua face,desse teu riso de fonte,
e do teu olhar antigo
de estrela sem horizonte.Como, porém, jå não medra,
cada um com a sorte sua!(NĂŁo nascem lĂrios de lua
pelos coraçÔes de pedra…)
Lei
O que Ă© preciso Ă© entender a solidĂŁo!
O que Ă© preciso Ă© aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.O que Ă© preciso Ă© esperar pela estrela
que ainda não estå completa.O que é preciso é que os olhos sejam cristal sem névoa,
e os lĂĄbios de ouro puro.O que Ă© preciso Ă© que a alma vĂĄ e venha;
e ouça a notĂcia do tempo,
e. entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diĂĄfanas asas,
isenta por igual.
de desejo e de desespero.
Jornal, longe
Que faremos destes jornais, com telegramas, notĂcias,
anĂșncios, fotografias, opiniĂ”es…?Caem as folhas secas sobre os longos relatos de guerra:
e o sol empalidece suas letras infinitas.Que faremos destes jornais, longe do mundo e dos homens?
Este recado de loucura perde o sentido entre a terra e o céu.De dia, lemos na flor que nasce e na abelha que voa;
de noite, nas grandes estrelas, e no aroma do campo serenado.Aqui, toda a vizinhança proclama convicta:
“Os jornais servem para fazer embrulhos”.E Ă© uma das raras vezes em que todos estĂŁo de acordo.
Guerra
Tanto Ă© o sangue
que os rios desistem de seu ritmo,
e o oceano delira
e rejeita as espumas vermelhas.Tanto Ă© o sangue
que atĂ© a lua se levanta horrĂvel,
e erra nos lugares serenos,
sonùmbula de auréolas rubras,
com o fogo do inferno em suas madeixas.Tanta Ă© a morte
que nem os rostos se conhecem, lado a lado,
e os pedaços de corpo estĂŁo por ali como tĂĄbuas sem uso.Oh, os dedos com alianças perdidos na lama…
Os olhos que jĂĄ nĂŁo pestanejam com a poeira…
As bocas de recados perdidos…
O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes…Tanta Ă© a morte
que sĂł as almas formariam colunas,
as almas desprendidas… â e alcançariam as estrelas.E as mĂĄquinas de entranhas abertas,
e os cadĂĄveres ainda armados,
e a terra com suas flores ardendo,
e os rios espavoridos como tigres, com suas mĂĄculas,
e este mar desvairado de incĂȘndios e nĂĄufragos,
e a lua alucinada de seu testemunho,
e nĂłs e vĂłs, imunes,
chorando,