O Cerimonial das MĂŁos

MĂŁe, onde foi que deixaste a outra metade,
a que anunciava o sol na turvação das noites,
a que iluminava a sombra no cerimonial das mĂŁos?
Em que cĂ´ncavo de rochas buscava abrigo
essa outra metade que eu via projectada
para fora de mim como um sonho evadindo-se
do cĂ­rculo de medos em que a fĂşria se jogava?
Eu era gémeo de todos os assombros
e os meus segredos era com essa outra metade
que os partilhava Ă  revelia das bocas
que em surdina me traçavam o destino.
Quanto de mim se perdia nessa metade
que me furtava o riso e me deixava a culpa,
que me feria o ventre e me fustigava a pele?
Quanto de mim me flagelava
sem que eu lhe conhecesse morada ou nome?
Mãe, eu pedia uma trégua ao vento
e um punhal Ă  chuva e com ambos queria
separar de mim a metade incandescente
que Ă  beira dos meus gestos
ganhava altura de nuvem e fulgor de estrela.
MĂŁe, eu vejo-me outro nesta cama
que guarda os instrumentos liquefeitos da insĂłnia
e sei que não sou eu quem lá está,

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