Louvor do Esquecimento
Bom Ă© o esquecimento.
SenĂŁo como Ă© que
O filho deixaria a mĂŁe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retĂ©m para os experimentar.Ou como havia o discĂpulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discĂpulo tem de se pĂ´r a caminho.Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construĂram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.O fogĂŁo aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
NĂŁo reconhece a broa de pĂŁo.Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhĂŁ?
Como Ă© que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.Tradução de Paulo Quintela
Poemas sobre Homens de Bertolt Brecht
3 resultadosO Horror de ser Pobre
Risco c’um traço
(Um traço fino, sem azedume)
Todos os que conheço, eu mesmo incluĂdo.
Para todos estes nĂŁo me verĂŁo
Nunca mais
Olhar com azedume.O horror de ser pobre!
Muitos gabavam-se que aguentariam, mas era ver-
-lhes as caras alguns anos depois!
Cheiros de latrina e papéis de parede podres
Atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.
As couves aguadas
Destroem planos que fazem forte um povo.
Sem água de banho, solidão e tabaco
Nada há que exigir.
O desprezo do pĂşblico
Arruina o espinhaço.
O pobre
Nunca está sozinho. Estão todos sempre
A espreitar-lhe pra o quarto. Abrem-lhe buracos
No prato da comida. Não sabe pra onde há-de ir.
O céu é o seu tecto, e chove-lhe lá pra dentro.
A Terra enxota-o. O vento
NĂŁo o conhece. A noite faz dele um aleijado. O dia
Deixa-o nu. Nada é o dinheiro que se tem. Não salva ninguém.
Mas nada ajuda
Quem dinheiro não tem.Tradução de Paulo Quintela
Louvor do Aprender
Aprende o mais simples! Pra aqueles
Cujo tempo chegou
Nunca Ă© tarde de mais!
Aprende o abc, nĂŁo chega, mas
Aprende-o!   E não te enfades!
Começa! Tens de saber tudo!
Tens de tomar a chefia!Aprende, homem do asilo!
Aprende, homem na prisĂŁo!
Aprende, mulher na cozinha!
Aprende, sexagenária!
Tens de tomar a chefia!Frequenta a escola, homem sem casa!
Arranja saber, homem com frio!
Faminto, pega no livro: Ă© uma arma.
Tens de tomar a chefia.NĂŁo te acanhes de perguntar, companheiro!
Não deixes que te metam patranhas na cabeça:
VĂŞ c’os teus prĂłprios olhos!
O que tu mesmo nĂŁo sabes
NĂŁo o sabes.
Verifica a conta:
És tu que a pagas.
Põe o dedo em cada parcela,
Pergunta: Como aparece isto aqui?
Tens de tomar a chefia.Tradução de Paulo Quintela