Poemas sobre Ignorantes

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Poemas de ignorantes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

AusĂȘncia

Por muito tempo achei que a ausĂȘncia Ă© falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje nĂŁo a lastimo.
NĂŁo hĂĄ falta na ausĂȘncia.
A ausĂȘncia Ă© um estar em mim.
E sinto-a, branca, tĂŁo pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamaçÔes alegres,
porque a ausĂȘncia, essa ausĂȘncia assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Os Arlequins – SĂĄtira

Musa, depÔe a lira!
Cantos de amor, cantos de glĂłria esquece!
Novo assunto aparece
Que o gĂȘnio move e a indignação inspira.
Esta esfera Ă© mais vasta,
E vence a letra nova a letra antiga!
Musa, toma a vergasta,
E os arlequins fustiga!

Como aos olhos de Roma,
— CadĂĄver do que foi, pĂĄvido impĂ©rio
De Caio e de TibĂ©rio, —
O filho de Agripina ousado assoma;
E a lira sobraçando,
Ante o povo idiota e amedrontado,
Pedia, ameaçando,
O aplauso acostumado;

E o povo que beijava
Outrora ao deus CalĂ­gula o vestido,
De novo submetido
Ao régio saltimbanco o aplauso dava.
E tu, tu nĂŁo te abrias,
Ó cĂ©u de Roma, Ă  cena degradante!
E tu, tu nĂŁo caĂ­as,
Ó raio chamejante!

Tal na histĂłria que passa
Neste de luzes século famoso,
O engenho portentoso
Sabe iludir a néscia populaça;
NĂŁo busca o mal tecido
Canto de outrora; a moderna insolĂȘncia
NĂŁo encanta o ouvido,
Fascina a consciĂȘncia!

Vede; o aspecto vistoso,
O olhar seguro,

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A Função do Amor é Fabricar Desconhecimento

a função do amor é fabricar desconhecimento

(o conhecido nĂŁo tem desejo;mas todo o amor Ă© desejar)
embora se viva Ă s avessas,o idĂȘntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar

e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode nĂŁo se
importar
se o tempo troteia,a luz declina,os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
—o medo tem morte menor;e viverá menos quando a morte acabar)

que afortunados sĂŁo os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(que riem e choram)que sonham,criam e matam
enquanto o todo se move;e cada parte permanece quieta:
pode nĂŁo ser sempre assim;e eu digo
que se os teus lĂĄbios,que amei,tocarem
os de outro,e os teus ternos fortes dedos aprisionarem
o seu coração,como o meu não hå muito tempo;
se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar
naquele silĂȘncio que conheço,ou naquelas
grandiosas contorcidas palavras que,dizendo demasiado,

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O Macho

O macho nĂŁo Ă© menos a alma,
nem Ă© mais:
ele também estå no seu lugar,
ele também é todo qualidades,
é acção e força,
nele se encontra
o fluxo do universo conhecido,
fica-lhe bem o desdém,
ficam-lhe bem os apetites e a ousadia,
o maior entusiasmo e as mais profundas paixÔes
ficam-lhe bem: o orgulho cabe a ele,
orgulho de homem Ă  potĂȘncia mĂĄxima
Ă© calmante e excelente para a alma,
fica-lhe bem o saber e ele o aprecia sempre,
tudo ele chama Ă  experiĂȘncia prĂłpria,
qualquer que seja o terreno,
quaisquer que sejam o mar e o vento,
no fim Ă© aqui que ele faz a sondagem.
(Onde mais lançaria ele a sonda,
senĂŁo aqui?)

Sagrado Ă© o corpo do homem
como sagrado Ă© o corpo da mulher,
sagrado — não importa de quem seja.
É o mais humilde numa turma de operários?
É um dos imigrantes de face turva
apenas desembarcados no cais?
SĂŁo todos daqui ou de qualquer parte,
da mesma forma que os bem situados,
da mesma forma que qualquer um de vocĂȘs:
cada qual hĂĄ-de ter na procissĂŁo
o lugar dele ou dela.

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ConveniĂȘncias de nĂŁo Usar os Olhos, os Ouvidos e a LĂ­ngua

Ouvir, ver e calar remédio era
nesse tempo em que os olhos e o ouvido
e a lĂ­ngua puderam ser sentido
e nĂŁo delito que ofender pudera.
Surdos, hoje, os remeiros com a cera,
um mar navegarei que (encanecido
de ossos, mas nĂŁo de espumas) com bramido
sepulta quem ouviu voz insincera.
Sem ser ouvido e sem ouvir, ociosos
olhos e orelhas, serei olvidado
pelo cenho dos homens poderosos.
Se Ă© delito saber quem Ă© culpado,
o vĂ­cio que o indaguem os curiosos
e viva eu ignorante e ignorado.

Tradução de José Bento

Recado

Se eu morrer longe
sepulta-me no mar
dentro das algas ignorantes
e lĂșcidas.

Cobre o meu rosto de palavras
antigas
e de mĂșsica.

Deixa em meus dedos
a memĂłria mais recente
de outras coisas inĂșmeras

e nos meus cabelos
o incerto movimento
do vento e da chuva.

Eu vogarei sob as estrelas
com pĂĄlidas luzes entre os cĂ­lios
e pequenos caramujos
entrarĂŁo nos meus ouvidos.

Estarei assim idĂȘntica
a todos os motivos.