Alcool

Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longamente em procissĂŁo;
Volteiam-me crepĂşsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidĂŁo.

Batem asas d’aurĂ©ola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cĂ´r e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo –
Luto, estrebucho… Em vĂŁo! Silvo pra alĂ©m…

Corro em volta de mim sem me encontrar…
Tudo oscila e se abate como espuma…
Um disco de ouro surge a voltear…
Fecho os meus olhos com pavor da bruma…

Que droga foi a que me inoculei?
Ă“pio d’inferno em vez de paraĂ­so?…
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como Ă© que em dor genial eu me eterizo?

Nem Ăłpio nem morfina. O que me ardeu,
Foi alcool mais raro e penetrante:
É sĂł de mim que eu ando delirante –
ManhĂŁ tĂŁo forte que me anoiteceu.