Caminhos
Para quĂȘ, caminhos do mundo,
Me atraĂs? â Se eu sei bem jĂĄ
Que voltarei donde parto,
Por qualquer lado que vĂĄ.Pra quĂȘ? â Se a Terra Ă© redonda;
E, sempre, tem de cumprir-se
A sina daquela onda
Que parece vai sumir-se,Mas que volta, bem mais débil,
Ao meio do lago, onde
A mĂŁe, gota d’ĂĄgua flĂ©bil,
HĂĄ muito tempo se esconde.Pra quĂȘ? â Se a folha viçosa
Na Primavera, feliz,
AmanhĂŁ serĂĄ, gostosa,
Alimento da raiz.Pra quĂȘ, caminhos do mundo?
Pra quĂȘ, andanças sem Fim?
Se todo o sonho profundo
Deste Mundo e do Outro-Mundo,
NĂŁo ‘stĂĄ neles, mas em mim.
Poemas sobre Lados
164 resultadosEscrito num Livro Abandonado em Viagem
Venho dos lados de Beja.
Vou para o meio de Lisboa.
NĂŁo trago nada e nĂŁo acharei nada.
Tenho o cansaço antecipado do que não acharei,
E a saudade que sinto nĂŁo Ă© nem no passado nem no futuro.
Deixo escrita neste livro a imagem do meu desĂgnio morto:
Fui, como ervas, e nĂŁo me arrancaram.
Males de Anto
A Ares n’uma aldeia
Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lĂĄ! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ĂĄs vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de CamÔes!
Sei de cór e salteado as minhas afflicçÔes:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, å noite, só, bebia a noite ås taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
AldeÔes! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.Mas, atravez da minha dor,
Certeza
NĂŁo:
Nunca saberĂĄs quem sou.
Apesar destes beijos que te dou
E destas ironias que te digo,
Vou contigo
Como vou
Ao lado dum inimigo.