Poemas sobre Lisboa

24 resultados
Poemas de lisboa escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Namorados da Cidade

Namorados de Lisboa
à beira-Tejo assentados
a dormir na Madragoa.
Namorados de Lisboa
num mirante deslumbrados
à beira-verde acordados
namorados de Lisboa!

Ao domingo uma cerveja
uma pevide salgada
uma boca que se beija
e que nos sabe a cereja
a miséria adocicada
à beira-parque plantada:
namorados de Lisboa!
Sempre sempre apaixonados
mesmo que a tristeza doa
namorados de Lisboa!
Namorados de Lisboa
na cadeira de um cinema
onde as mãos andam à toa
à procura de um poema.
Namorados de Lisboa
que o mistério não desvenda
até que o escuro se acenda.

Namorados de Lisboa
a apertar num vão de escada
o prazer que nos magoa
e depois não sabe a nada.
Namorados de Lisboa
a morar num vão de escada
namorados de Lisboa!
Sempre sempre apaixonados
Mesmo que a tristeza doa
namorados de Lisboa!

Lusíada Exilado

Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.

Há nevoeiro em mim. Dentro de abril dezembro.
Quem nunca fui é um grito na memória.
E há um naufrágio em mim se de quem fui me lembro
há uma história por contar na minha história.

Trago no rosto a marca do chicote.
Cicatrizes as minha condecorações.
Nas minhas mãos é que é verdade D. Quixote
trago na boca um verso de Camões.

Sou este camponês que foi ao mar
lavrou as ondas e mondou a espuma
e andou achando como a vindimar
terra plantada sobre o vento e a bruma.

Sou este marinheiro que ficou em terra
lavrando a mágoa como se lavrar
não fosse mais do que a perdida guerra
entre o não ser na terra e o ser no mar.

Eu que parti e que fiquei sempre presente
eu que tudo mandava e nunca fui senhor
eu que ficando estive sempre ausente
eu que fui marinheiro sendo lavrador.

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Retrato do Povo de Lisboa

É da torre mais alta do meu pranto
que eu canto este meu sangue este meu povo.
Dessa torre maior em que apenas sou grande
por me cantar de novo.

Cantar como quem despe a ganga da tristeza
e põe a nu a espádua da saudade
chama que nasce e cresce e morre acesa
em plena liberdade.

É da voz do meu povo uma criança
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.

Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.