Fala de Mãe e Filho
«Meu filho:
onde vais
que tens do rio o caminhar?»Não espreites a estrada, mãe,
que eu nasci
onde o tempo se despenhou.«Meu filho:
onde te posso lembrar
se apenas te dei nome para te embalar ?»Mãe, minha mãe:
não te pese saudade
que eu voltarei sempre
como quem chega do mar.«Meu filho:
onde te posso nascer
se meu ventre seco
nunca ninguém gerou?»Mãe, nascerás sempre
na pedra em que te escuto:
a tua ausência, meu luto,
teu corpo para sempre insepulto.
Poemas sobre Nomes de Mia Couto
2 resultadosDiz o Meu Nome
Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem
[os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteçaPorque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contornoPorque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venciPorque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativosNo húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome