Diz o Meu Nome

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sĂ­labas te queimassem
[os lĂĄbios
sopra-o com a suavidade
de uma confidĂȘncia
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a Ășltima gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim prĂłprio me venci

Porque a minha mĂŁo infatigĂĄvel
procura o interior e o avesso
da aparĂȘncia
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e Ă© urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No hĂșmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome