Tinha sido amor Ă primeira vista, Ă Ășltima vista, Ă s vistas de todo o sempre
Passagens sobre Ăltimos
618 resultadosPassamos trĂȘs quartos da vida a preparar a felicidade. Mas quantos gozam o Ășltimo quarto?
A Armadilha do Empenho
Fugir dos empenhos Ă© das primeiras mĂĄximas da prudĂȘncia. Nas grandes capacidades hĂĄ sempre grandes distĂąncias, atĂ© aos Ășltimos detalhes do tĂ©rmino. HĂĄ muito para andar de um extremo ao outro, e eles estĂŁo sempre inebriados pela sua boa conduta: chegam tarde ao rompimento, pois Ă© mais fĂĄcil furtar-se Ă ocasiĂŁo perigosa do que se sair bem dela. Nas tentaçÔes do juĂzo, mais seguro Ă© fugir do que vencer. Um empenho traz outro maior e estĂĄ perto do despenho. HĂĄ homens que, por gĂ©nio e mesmo por inclinação, metem-se em obrigaçÔes, mas quem caminha Ă luz da razĂŁo sempre vai com muita consideração. Estima-se ter mais valor o nĂŁo se empenhar que o vencer, e, jĂĄ que hĂĄ um tolo profiado, escusa-se que com ele sejam dois.
Ă caracterĂstica do chato que ele Ă© a Ășltima pessoa a saber disso.
Da Leitura
NĂŁo leiais para refutar ou contradizer, para aceitar ou aquiescer, para perorar ou discursar, mas para ponderar e considerar. Certos livros devem ser provados; outros engolidos; uns poucos mastigados e digeridos. Quer dizer: devemos ler certos livros apenas parceladamente; outros incuriosamente, e uns poucos da primeira Ă Ășltima pĂĄgina, com diligĂȘncia e atenção. Alguns livros podem mesmo ser lidos por terceiros, que nos farĂŁo deles um apanhado, mas isso somente no caso de assuntos desimportantes, e de livros medĂocres, pois livros resumidos sĂŁo como ĂĄgua destilada: insĂpidos.
O ler faz um homem completo, o conferir destro, o escrever exacto. Bem por isso, se alguĂ©m escreve pouco, deve ter boa memĂłria; se confere pouco, muita sagacidade; se lĂȘ pouco, muita manha para afectar saber o que nĂŁo sabe.
Uma verdade sĂł Ă© verdade quando levada Ă s Ășltimas consequĂȘncias. AtĂ© lĂĄ nĂŁo Ă© uma verdade, Ă© uma opiniĂŁo.
Juntos vimos florescerem as primeiras ilusĂ”es, e juntos vimos dissiparem-se as Ășltimas.
As lĂĄgrimas sĂŁo, quase sempre, o Ășltimo sorriso do amor.
Lamenta-se o homem que teve a desventura de casar com mĂĄ mulher, mas aquele que pela segunda vez se expĂ”e, nĂŁo Ă© digno de que o lastimem, porque terĂĄ apenas o que mereceu, se a Ășltima se assemelhar Ă primeira.
O aforismo deve ser a Ășltima colheita do uso da vida, e nĂŁo uma impertinĂȘncia ou uma afronta.
A Verdade
A verdade Ă© semelhante a uma adolescente
vibrante, flexĂvel, em radiosa sombra.
Quando fala Ă© a noite translĂșcida no mar
e a esfera germinal e os anéis da ågua.
Um apelo suave obstinado se adivinha.Ela dorme tĂŁo perfeitamente despertada
que em si a verdade Ă© o vazio. Ela aspira
Ă cegueira, ao eclipse, Ă travessia
dos espelhos atĂ© ao Ășltimo astro. Ela sabe
que o muro estĂĄ em si. Ela Ă© a sedee o sopro, a falha e a sombra fascinante.
Ela funda uma arquitectura volante
em suspensas superfĂcies ondulantes.
Ela Ă© a que solicita e separa, delimita
e dissemina as sĂlabas solidĂĄrias.
Lisbon Revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinqĂŒenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angĂșstia de fome de carne
O que nĂŁo sei que seja –
Definidamente pelo indefinido…
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.Fecharam-me todas as portas abstratas e necessĂĄrias.
Correram cortinas de todas as hipĂłteses que eu poderia ver da rua.
NĂŁo hĂĄ na travessa achada o nĂșmero da porta que me deram.Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
AtĂ© a vida sĂł desejada me farta – atĂ© essa vida…Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
NĂŁo sei que destino ou futuro compete Ă minha angĂșstia sem leme;
NĂŁo sei que ilhas do sul impossĂvel aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darĂŁo ao menos um verso.NĂŁo, nĂŁo sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma…
E, no fundo do meu espĂrito,
A ImportĂąncia dos PrincĂpios
Entre os homens, alguns hĂĄ que possuem naturalmente um excelente carĂĄcter e que assimilam sem necessidade de longa instrução os princĂpios tradicionais, que abraçam a via da moralidade desde o primeiro momento em que dela ouvem falar; do meio destes Ă© que surgem aqueles gĂ©nios que concitam em si toda a gama de virtudes, que produzem eles mesmos virtudes. Mas aos outros, Ă queles que tĂȘm o espĂrito embotado, obtuso ou dominado por tradiçÔes errĂłneas, a esses hĂĄ que raspar a ferrugem que tĂȘm na alma. Mais ainda: se transmitirmos os preceitos bĂĄsicos da filosofia aos primeiros, rapidamente eles atingirĂŁo o mais alto nĂvel, pois estĂŁo naturalmente inclinados ao bem; se o fizermos aos outros, os de natureza mais fraca, ajudĂĄ-los-emos a libertarem-se das suas convicçÔes erradas. Por aqui podes ver como sĂŁo necessĂĄrios os princĂpios bĂĄsicos. Temos instintos em nĂłs que nos fazem indolentes ante certas coisas, e atrevidos perante outras; ora, nem este atrevimento nem aquela indolĂȘncia podem ser eliminados se primeiro nĂŁo removermos as respectivas causas, ou seja, a admiração infundada ou o receio infundado.
Enquanto tivermos em nĂłs esses instintos, bem poderĂĄs dizer: “estes sĂŁo os teus deveres para com teu pai, ou para com os filhos,
Ă Talvez o Ăltimo Dia da Minha Vida
Ă talvez o Ășltimo dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mĂŁo direita,
Mas nĂŁo o saudei, para lhe dizer adeus.
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada.
Confia no teu cĂŁo atĂ© o Ășltimo momento, mas na tua mulher ou no teu marido, apenas atĂ© a primeira ocasiĂŁo.
A Medida da FĂ©
TĂŁo mais opressiva que a convicção implacĂĄvel do nosso presente estado pecaminoso Ă© a mais frĂĄgil convicção da antiga, eterna justificação da nossa existĂȘncia temporal. SĂł a capacidade de suportar desta segunda convicção, que na sua pureza abrange completamente a primeira, Ă© a medida da fĂ©.
Muitos consideram que, ao lado da grande fraude primitiva, existe em cada caso particular uma pequena fraude especial, encenada em proveito prĂłprio, do mesmo modo como, por exemplo, numa intriga amorosa, representada no palco, a actriz, alĂ©m do falso sorriso para o seu amante, tem ainda outro, particularmente pĂ©rfido, dirigido a um espectador determinado na Ășltima fileira da galeria. Isso significa ir longe demais.
O Fim Das Coisas
Pode o homem bruto, adstricto Ă ciĂȘncia grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
SĂŽfrego, o solo sĂĄxeo; e, na Ăąnsia ardente
De perscrutar o Ăntimo do orbe, invente
A limpada aflogĂstica de Davy!Em vĂŁo! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio …E quando, ao cabo do Ășltimo milĂȘnio,
A humanidade vai pesar seu gĂȘnio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!
Ăvidos pelos bens distantes, nĂŁo devemos desprezar os bens prĂłximos; lembremo-nos de que estes Ășltimos tambĂ©m, outrora, foram ansiosamente desejados.
Mandar Ă© Respirar
Mandar Ă© respirar, nĂŁo Ă© desta opiniĂŁo? E atĂ© os mais deserdados chegam a respirar. O Ășltimo na escala social tem ainda o cĂŽnjuge ou o filho. Se Ă© celibatĂĄrio, um cĂŁo. O essencial, em resumo, Ă© uma pessoa poder zangar-se sem que outrem tenha o direito de responder. «Ao pai nĂŁo se responde», conhece a fĂłrmula? Em certo sentido, ela Ă© singular. A quem se responderia neste mundo senĂŁo a quem se ama? Por outro lado, ela Ă© convincente. Ă preciso que alguĂ©m tenha a Ășltima palavra. SenĂŁo, a toda a razĂŁo pode opor-se outra: nunca mais se acabava. A força, pelo contrĂĄrio, resolve tudo. Levou tempo, mas conseguimos compreendĂȘ-lo. Por exemplo, deve tĂȘ-lo notado, a nossa velha Europa filosofa, enfim, da melhor maneira. JĂĄ nĂŁo dizemos, como nos tempos ingĂ©nuos: «Eu penso assim. Quais sĂŁo as suas objecçÔes?» TornĂĄmo-nos lĂșcidos. SubstituĂmos o diĂĄlogo pelo comunicado.
A ambição Ă© o Ășltimo recurso do fracassado.