Não se deve negar tudo, pois os outros deixariam de ser dependentes. Deixar sempre um resto de esperança para amenizar o gosto amargo da recusa.
Passagens de Baltasar Gracián
166 resultadosSábio é aquele que fica descontente quando suas coisas agradam a muitos!
O ‘não’ e o ‘sim’ são palavras curtas, mas pedem longa reflexão antes de serem ditas.
A arte é inútil quando é suficiente a natureza.
A confiança é a mãe do descuido.
Saber Sair na Hora Certa
Não esperar até ser sol poente. É máxima do cordo deixar as coisas antes que elas o deixem. Que se saiba converter em triunfo o próprio fenecer, pois às vezes mesmo o sol, ainda brilhante, costuma retirar-se numa nuvem para que não o vejamos cair, e nos deixa suspensos, não sabendo se ele se pôs ou não. Furte-se aos ocasos para não rebentar de desdouros; não espere que lhe voltem as costas, porque o sepultarão vivo para o sentimento e morto para a estima. O atilado dispensa a tempo o cavalo em que corre, e não espera que, caindo, faça erguer-se o riso no meio da corrida; que a beleza quebre o espelho com tempo e com astúcia, e não com impaciência depois, ao ver o seu desengano.
O sagaz prefere os que necessitem dele aos agradecidos.
Toda vitória desnecessária é crime.
Jamais lutes com quem nada tem para perder. O conflito seria desigual.
Não basta não se intrometer nos assuntos dos outros: é preciso também evitar que se intrometam nos seus.
A incredulidade é um vomitório para os segredos.
Quem quiser atenção e desvelo, imite a divindade.
O peso material torna precioso o ouro, e o peso moral valoriza uma pessoa.
O homem tem muito para saber e pouco para viver; e não vive se não souber nada.
Obtém-se mais da dependência que da cortesia. Quem já matou a sede volta as costas para a fonte.
Homem ignorante, mundo às escuras.
Coloque uma pitada de ousadia em tudo o que você fizer.
Maus modos estragam tudo, até o que é justo e razoável. Boas maneiras favorecem tudo: amenizam o não, adoçam verdades amargas e dão um toque de beleza à velhice.
Não há país, por mais culto que seja, que não tenha um defeito peculiar, e essa fraqueza serve de precaução ou consolo às nações vizinhas.
Permitir-se algum Deslize
Que um descuido costuma ser às vezes a maior recomendação dos dotes. A inveja tem o seu ostracismo, tanto mais civil quanto mais criminoso; acusa o muito perfeito de pecar por não pecar, e, por ser perfeito em tudo, condena-o tudo. Faz-se Argos em busca de faltas no muito bom, para consolo ao menos. A censura, como o raio, fere o que mais se alça. Que Homero então às vezes dormite, e afecte algum descuido no engenho ou no valor, mas nunca na cordura, para sossegar a malevolência, que não rebente peçonhenta. Será como atirar a capa ao touro da inveja, para salvar a imortalidade.