O Segredo
Deus nĂŁo sabe os meus segredos.
As paredes sem ouvidos nĂŁo escutam
a confidĂȘncia interminĂĄvel.
O que perco, ninguém sabe. Dissolve-se em mim,
luminĂĄria secreta, sĂlaba que os lĂĄbios nĂŁo ousam murmurar
diante de teu corpo no escuro,
constelação.E o sobejo de mim, Ășltimo raio de sol,
fulge no deserto. E nos penhascos
ressoa
constelado
o meu grito de amor.
Poemas sobre ConfidĂȘncia
6 resultadosDiz o Meu Nome
Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sĂlabas te queimassem
[os lĂĄbios
sopra-o com a suavidade
de uma confidĂȘncia
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteçaPorque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a Ășltima gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contornoPorque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim prĂłprio me venciPorque a minha mĂŁo infatigĂĄvel
procura o interior e o avesso
da aparĂȘncia
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e Ă© urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativosNo hĂșmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome
Que Bem Sabe o Amor Constante
Até no carro te canto,
Fala a fala, seio a seio,
Espantado de um encanto
Que mais parece receioDe te perder Ă partida
Pra te ganhar Ă chegada,
Pois tu Ă©s a minha vida
Na ida e volta arriscada.Vai o Godinho ao volante
Com seu ar de conde antigo
Que bem sabe o amor constante
Que me aparelha contigo.Poupado na gasolina,
Discreto na confidĂȘncia,
Navegador Ă bolina
Dos rumos da nossa ausĂȘncia.Leva-me Ă Embaixada, ao almoço:
Travou, mas nĂŁo sei que tenho:
Um resto de ardor de moço
Contigo no meu canhenho.
Mapa
Ao norte, a torre clara, a praça, o eterno encontro,
A confidĂȘncia muda com teu rosto por jamais.
A leste, o mar, o verde, a onda, a espuma,
Esse fantasma longe, barco e bruma,
O cais para a partida mais definitiva
A urna distancia percorrida em sonho:
Perfume da lonjura, a cidade santa.O oeste, a casa grande, o corredor, a cama:
Esse carinho intenso de silĂȘncio e banho.
A terra a oeste, essa ternura de pianos e janelas abertas
A rua em que passavas, o abano das sacadas: o morro e o
cemitĂ©rio e as glicĂnias.
Ao sul, o amor, toda a esperança, o circo, o papagaio, a
nuvem: esse varal de vento,
No sul iluminado o pensamento no sonho em que te sonho
Ao sul, a praia, o alento, essa atalaia ao teu paĂsMapa azul da infĂąncia:
O jardim de rosas e mistério: o espelho.
O nunca além do muro, além do sonho o nunca
E as avenidas que percorro aclamado e feliz.Antes o sol no seu mais novo raio,
O acordar cotidiano para o ensaio do céu,
Meditação Sobre os Poderes
Rubricavam os decretos, as folhas tristes
sobre a mesa dos seus poderes efémeros.
Queriam ser reis, czares, tantas coisas,
e rodeavam-se de pequenos corvos,
palradores e reverentes, dos que repetem:
és grande, ninguém te iguala, ninguém.
Repartiam entre si os tesouros e as dĂĄdivas,
murmurando forjadas confidĂȘncias,
não amando ninguém, nada respeitando.
Encantavam-se com o eco liquefeito
das suas vozes comandando, decretando.
Banqueteavam-se com a pequenez
de tudo quanto julgavam ser grande,
com os quadros, com o fulgor novo-rico
das vénias e dos protocolos. Vinha a morte
e mostrava-lhes como tudo Ă© fugaz
quando, humanamente, se estĂĄ de passagem,
corpo em trĂąnsito para lado nenhum.
Acabaram sempre a chorar sobre a miséria
dos seus tĂtulos afundados na terra lamacenta.
Sussurro
Isto é um poço. Hå sempre quem nele se debruce. A ågua
continua a correr sem qualquer destino, e sabemos
como se afasta devagar para ser igual Ă s vestes
caĂdas, talvez abandonadas. Assim tu podes ver
o que se confunde ali com a luz e, depois, se torna
mais nosso. Sem pressa aproximas-te agora desse espelho
vazio e sentirås que só a brisa desce até ficarmos
perto de alguns sulcos. Eles tornaram-se maiores, humedecidos.
Inclinas-te um pouco mais como se finalmente escutasses
uma confidĂȘncia. Sabemos que Ă© em vĂŁo porque ninguĂ©m se encontra
ao teu lado e jĂĄ nĂŁo Ă© suficiente o sussurro da ĂĄgua.