Visita-me Enquanto não Envelheço
visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidadotenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadoresver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcĂŁo a lava do desejo
subindo Ă boca sulfurosa dos espelhosantes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausĂȘncia se prende Ă s veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouroperco-te no sono das marĂtimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindĂĄvel ĂĄguacom teu sabor de açĂșcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te
Poemas sobre Olhos de Al Berto
4 resultadosMais Nada se Move em Cima do Papel
mais nada se move em cima do papel
nenhum olho de tinta iridescente pressagia
o destino deste corpoos dedos cintilam no hĂșmus da terra
e eu
indiferente Ă sonolĂȘncia da lĂngua
ouço o eco do amor hå muito soterradoencosto a cabeça na luz e tudo esqueço
no interior desta ùnfora alucinadadesço com a lentidão ruiva das feras
ao nervo onde a boca procura o sul
e os lugares dantes povoados
ah meu amigo
demoraste tanto a voltar dessa viagemo mar subiu ao degrau das manhĂŁs idosas
inundou o corpo quebrado pela serena desilusĂŁoassim me habituei a morrer sem ti
com uma esferogråfica cravada no coração
Corpo
corpo
que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocĂȘncia nua
dum lĂrio cujo caule se estende e
ramifica para lå dos alicerces da casaabre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os ĂłrgĂŁos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservadomas olho para as mĂŁos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunaslevanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sĂsmico do mundo
Rumor dos Fogos
hoje Ă noite avistei sobre a folha de papel
o dragĂŁo em celulĂłide da infĂąncia
escuro como o interior polposo das cerejas
antigo como a insĂłnia dos meus trinta e cinco anos…dantes eu conseguia esconder-me nas paisagens
podia beber a humidade aérea do musgo
derramar sangue nos dedos magoados
foi hĂĄ muito tempo
quando corria pelas ruas sem saber ler nem escrever
o mundo reduzia-se a um berlinde
e as mĂŁos eram pequenas
desvendavam os nocturnos segredos dos pinhaisnĂŁo quero mais perceber as palavras nem os corpos
deixou de me pertencer o choro longĂnquo das pedras
prossigo caminho com estes ossos cor de malva
som a som o vegetal silĂȘncio sĂlaba a sĂlaba o abandono
desta obra que fica por construir… o receio
de abrir os olhos e as rosas nĂŁo estarem onde as sonhei
e teu rosto ter desaparecido no fundo do marficou-me esta mĂŁo com sua sombra de terra
sobre o papel branco… como Ă© louca esta mĂŁo
tentando aparar a tristeza antiga das lĂĄgrimas