Poemas sobre Pena de Fernando Pessoa

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Poemas de pena de Fernando Pessoa. Leia este e outros poemas de Fernando Pessoa em Poetris.

Feliz Dia para Quem É

Feliz dia para quem Ă©
O igual do dia,
E no exterior azul que vĂŞ
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
NĂŁo pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estĂŁo
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
TĂŁo belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!

Mar PortuguĂŞs

Ă“ mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mĂŁes choraram,
Quantos filhos em vĂŁo rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, Ăł mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao Ă© pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Mensagem – Mar PortuguĂŞs

MAR PORTUGUĂŠS

Possessio Maris

I. O Infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguĂŞs.
Do mar e nĂłs em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

II. Horizonte

Ă“ mar anterior a nĂłs, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
’Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves,

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Tenho pena e nĂŁo respondo

Tenho pena e nĂŁo respondo.
Mas nĂŁo tenho culpa enfim
De que em mim nĂŁo correspondo
Ao outro que amaste em mim.

Cada um Ă© muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros – cada um sente
O que julga, e Ă© um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
NĂŁo me sonhem nem me outrem.
Se eu nĂŁo me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?

Ditosos a quem Acena

MARINHA

Ditosos a quem acena
Um lenço de despedida!
SĂŁo felizes: tĂŞm pena…
Eu sofro sem pena a vida.

Dôo-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,
Ă“rfĂŁo de um sonho suspenso
Pela marĂ© a vazar…

E sobe até mim, já farto
De improfĂ­cuas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias.