Passagens de Fernando Pessoa

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Frases, pensamentos e outras passagens de Fernando Pessoa para ler e compartilhar. Os melhores escritores estão em Poetris.

Mas talvez não chegar queira dizer que há outra estrada que achar, certa estrada que está, como quando da festa se esquece quem lá está.

Os cavalos da cavalaria é que formam a cavalaria. Sem as montadas, os cavaleiros seriam peões. O lugar é que faz a localidade. Estar é ser.

Se um homem escreve bem só quando está bêbado dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso, respondo: o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto.

Os Realistas e os Românticos

Os realistas fazem as pequenas coisas e os românticos as grandes. Um homem tem de ser realista para poder gerir uma fábrica de tachas. Tem de ser romântico para gerir o mundo.
É necessário um realista para encontrar a realidade; o romântico é necessário para criá-la. Napoleão é apenas um poeta, Cromwell um entusiasta, César um retórico.
A distância entre Henry Ford e John Milton é sempre maior no comboio de regresso.
A realização é a morte, porque é o fim. Os romãnticos são sobrevivências, encarnações perpétuas de si próprios.

Procurar o Sonho é Procurar a Verdade

A única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas. A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê?
Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim, sou eu próprio. Isolar-se tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.

Nunca para dentro da vida de nenhum outro homem se insinuou tanto o mistério do mundo. Tão familiarmente, por assim dizer. O mistério do mundo encontra não apenas o meu pensamento, mas também o meu sentimento.

A Alma Não se Usa na Superfície do Mundo

Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que se não usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer.(…)

Os psiquiatras sabem (às vezes) como trabalha o espírito doente, mas não como trabalha o espírito são.

A delicadeza deve concluir-se, e não ver-se. (…) A grosseria só começa quando começa a delicadeza; e o impudor desde que o pudor exista.

Nada é indiferente àqueles a quem tudo é indiferente. Um gesto, uma cor, tudo os deleita e os detém até que outra minimidade a destrona.

Amar é cansar-se de estar só: é uma covardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos) (Bernardo Soares)