O que parece não é real, é as costas das mãos de Deus, a sombra dos seus gestos…
Passagens de Fernando Pessoa
1382 resultadosAs palavras dos outros são erros do nosso ouvir, naufrágios do nosso entender.
E afinal o que quero é fé, é calma, e não ter essas sensações confusas.
A vida é um mal digno de ser gozado.
Nada se passa connosco: nós é que somos o que se passa.
O maior domínio de si próprio é a indiferença por si próprio.
Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge.
Primeiro sê livre; depois pede a liberdade.
Compreender é esquecer de amar.
Há metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua.
O Problema da Sinceridade do Poeta
O poeta superior diz o que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história da Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam. Há alguns, muito grandes, que nunca o disseram, que foram sempre incapazes de o dizer. Quando muito há, em certos poetas, momentos em que dizem o que sentem.
Aqui e ali o disse Wordsworth. Uma ou duas vezes o disse Coleridge; pois a Rima do Velho Nauta e Kubla Khan são mais sinceros que todo o Milton, direi mesmo que todo o Shakespeare. Há apenas uma reserva com respeito a Shakespeare: é que Shakespeare era essencial e estruturalmente factício;
O característico principal do homem que nasceu para mandar é que sabe mandar em si mesmo.
O pessimismo é bom quando é fonte de energia.
A única realidade que há é a palavra realidade não ter sentido nenhum.
Eu sou o intervalo entre o meu querer e o que a vontade dos outros fez de mim.
Se amares, vir-te-á a amargura de não ter achado nada, tendo-te perdido a ti mesmo.
Amo o Real quando amo os meus sonhos.
Não Tenho Rancores nem Ódios
Pertenço a uma geração que ainda está por vir, cuja alma não conhece já, realmente, a sinceridade e os sentimentos sociais. Por isso não compreendo como é que uma criatura fica desqualificada, nem como é que ela o sente. É oca de sentido, para mim, toda essa (…) das conveniências sociais. Não sinto o que é honra, vergonha, dignidade. São para mim, como para os do meu alto nível nervoso, palavras de uma língua estrangeira, como um som anónimo apenas.
Ao dizerem que me desqualificaram, eu não percebo senão que se fala de mim, mas o sentido da frase escapa-me. Assisto ao que me acontece, de longe, desprendidamente, sorrindo ligeiramente das coisas que acontecem na vida. Hoje, ainda ninguém sente isto; mas um dia virá quem o possa perceber.
Procurei sempre ser espectador da vida, sem me misturar nela. Assim, a isto que se passa comigo, eu assisto como um estranho; salvo que tiro dos pobres acontecimentos que me cercam a volúpia suave de (…).Não tenho rancor nenhum a quem provocou isto. Eu não tenho rancores nem ódios. Esses sentimentos pertencem àqueles que têm uma opinião, ou uma profissão ou um objectivo na vida. Eu não tenho nada dessas coisas.
O próprio facto de sermos prova tudo.
Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.