Poemas sobre Peras de Luís de Camões

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Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas nĂŁo de matar.

U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem Ă© cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vĂŁo
Perde opiniĂŁo
Que os louros sĂŁo belos.

PretidĂŁo de Amor,
TĂŁo doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidĂŁo,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta Ă© a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.

Quando me quer enganar

Quando me quer enganar
A minha bela perjura,
Pera mais me confirmar
O que quer certificar,
Pelos seus olhos mo jura.
Como meu contentamento
Todo se rege por eles,
Imagina o pensamento
Que se faz agravo a eles
NĂŁo crer tĂŁo grĂŁo juramento.

Porém, como em casos tais
Ando já visto e corrente,
Sem outros certos sinais,
Quanto me ela jura mais,
Tanto mais cuido que mente.
EntĂŁo, vendo-lhe ofender
Uns tais olhos como aqueles,
Deixo-me antes tudo crer,
SĂł pela nĂŁo constranger
A jurar falso por eles.

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tĂŁo mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, sĂł pera mim,
Anda o Mundo concertado.