Pesada Noite

A noite cai de bruços,
cai com o peso fundo do cansaço,
cai como pedra, como braço,
cai como um século de cera,
aos tombos, aos soluços,
entre a maçã maciça e a perene pêra,
entre a tarde e o crepĂşsculo,
dilatação da madrugada, elástica,
cai, de borracha,
imitação de músculo,
cai, parecendo que se agacha
na sombra, e feminina, e ágil
salta, com molas de ginástica
nos pés, o abismo
do presságio,
a noite, essa mandĂ­bula do trismo,
tétano e espasmo,
ao mesmo tempo, a noite
amorosa, Ă  espreita do orgasmo,
ferina, mas também açoite,
contraditĂłria
como existir esquecimento
no Ă­ntimo do homem,
na intimidade viva da memĂłria,
reminiscĂŞncias que o consomem
fugindo com o vento,
a noite, a noite acata
tudo que ocorre,
tanto aquele que mata
quanto aquele que morre,
a noite, a sensação e aguda
de um sono
fechando os olhos, invencĂ­vel
como fera que estuda
a vĂ­tima, abandono
completo, fuga, salto
nas garras do impossĂ­vel,
a noite pétrea do basalto,

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