Moralidade
à nosso coração vorage imensa,
Em que Honras, Cargos, lĂșbrica Ventura
São dos Desejos vagos a mantença,
Que, gozados, os manda Ă sepultura,
Para abrir nova boca Ă turba densa
De prazeres de nova formosura
Quais das talhas das BĂ©lides impias,
Se esvaecem as ĂĄguas fugidias.
Poemas sobre Prazer de Filinto ElĂsio
5 resultadosOde Ă Amizade
Se depois do infortĂșnio de nascermos
Escravos da Doença e dos Pesares
Alvos de Invejas, alvos de CalĂșnias
Mostrando-nos a campa
A cada passo aberta o Mar e a Terra;
Um raio despedido, fuzilando
Terror e morte, no rasgar das nuvens
O tenebroso seio
A Divina Amizade nĂŁo viera
Com piedosa mĂŁo limpar o pranto,
Embotar com dulcĂssono conforto
As lanças da Amargura;
O Såbio espedaçara os nós da vida
Mal que a RazĂŁo no espelho da ExperiĂȘncia
Lhe apontasse apinhados inimigos
C’o as cruas mĂŁos armadas;
Terna Amizade, em teu altar tranquilo
Ponho â por que hoje, e sempre arda perene
O vago coração, ludĂbrio e jogo
Do zombador Tirano.
Amor me deu a vida: a vida enjeito,
Se a Amizade a nĂŁo doura, a nĂŁo afaga;
Se com mais fortes nĂłs, que a Natureza,
Lhe nĂŁo ata os instantes.
Que só ditosos são na aberta liça
Dois mortais, que nos braços da Amizade,
Estreitos se unem, bebem de teu seio
NectĂĄrea valentia.
Tu cerceias o mal, o bem dilatas,
E as almas que cultivas cuidadosa,
Desafogo
Onde estĂĄs, oh FilĂłsofo indefesso
Pio sequaz da rĂgida Virtude,
TĂŁo terna a alheios, quanto a si severa?
Com que mĂĄgoa, com que ira olharas hoje
Desprezada dos homens, e esquecida
Aquela Ăąnsia, que em nĂłs pousou Natura
No Ăąmago do peito, â de acudir-nos
Co’as forças, c’o talento, co’as riquezas
Ă pena, ao desamparo do homem justo!
Que (baldĂŁo da fortuna inĂqua) os Deuses
Puseram para sĂmbolo do esforço,
Lutando a braços c’o ĂĄspero infortĂșnio?
Pedra de toque em que luzisse o ouro
De sua alma viril, onde encravassem
Seus farpÔes mais agudos as Desgraças,
E os peitos de virtude generosa
Desferissem poderes de ĂĄrduo auxĂlio?
Que nunca os homens sĂŁo mais sobre-humanos
Mais comparados c’os sublimes Numes,
Que quando acodem com socorro activo,
NĂŁo manchado de sĂłrdido interesse,
Nem do fumo de frĂvola ufania;
Ou cheios de valor e de constĂąncia
Arrostam co’a medonha catadura
Da Desgraça, que apura iradas mågoas
Na casa nua do varĂŁo honesto.
Mas Grécia e Roma hå muito que acabaram;
E as cinzas dos HerĂłis fortes e humanos,
Que Mimoso Prazer!
1
Que mimoso prazer! Teu rosto amado
Me raiou na alma! Oh astro meu luzente!
Desfez-se em continente
O negrume cerrado,
Que me assombrava o coração aflito,
Em saudades tristĂssimas sopito.2
Bem, como quando aponta o sol radiante
Pelos ervosos cumes dos outeiros;
Fogem bruscos nevoeiros,
Da roxa luz brilhante;
Assim, mal vi teu rosto, assim fugiam
As MĂĄgoas, que de luto a alma cobriam3
Quem sempre assim de amor nos brandos laços!
Doces queixas de amor absorto ouvira!
Da idade nĂŁo sentira
O voo. Entre os teus braços
Me corte o fio, com a fouce, a Morte;
Que perco a vida, sem sentir o corte!4
Se a meiga VĂ©nus, se o gentil Cupido
Cede a meus votos, cede Ă minha Amada:
Se esta uniĂŁo prezada
NĂŁo rompe um Nume infido…
NĂŁo dou por mais feliz o vil Mineiro
Sobre montes de sĂłrdido dinheiro.5
NĂŁo dou por mais feliz o Rei no trono
Lisonjado de CortesĂŁos astutos.
Prazer! Prazer! oh Falso, oh Bandoleiro!
«Prazer! Prazer! oh falso, oh bandoleiro!
Que fugindo te ausentas
De nĂłs, sem saudade, e tĂŁo ligeiro:
As penas nos aumentas,
Se, mal que te acolhemos, jå nos deixas».
Eis que o lindo Prazer tĂŁo suspirado
Me responde: â Que vĂŁs sĂŁo tuas queixas!
Aos Numes graças rende, que hão criado
O Prazer breve: que, a ser eu comprido,
Me houveram (certo) para si retido.