O Sono de Percival

O justo Ă© injusto, o injusto justo Ă©.
DĂ©bil julguei ouvir tua voz a desoras.
Um lamento lento, por certo a voz
do vento. Secarei, talvez como o feno,
nĂŁo dormindo, nem noites, nem dias.

Soluço abafado, sussurro apenas
perceptĂ­vel apĂłs a brancura
obliterante do relâmpago,
quando cessa o fragor que o excede
e a chuva cai e tudo se cala,

terei ouvido tua voz. Secarei,
talvez, como o feno. O justo
Ă© injusto, o injusto justo Ă©.
Procurei no horto e no deserto,
sob o cavo ruĂ­do das torrentes

subterrâneas, na imemorial
pedra circular com que o humano
terror balizou os horizontes
do tempo. No espectro da rosa
dos ventos, no vento espectral

da rosa. Seria a voz do vento,
pintura da minha imaginação
doente, a vigĂ­lia do sono,
a febre dos sentidos,
nĂŁo dormindo noites e dias

para ouvir tua voz. O justo
Ă© injusto, o injusto justo Ă©
para ouvir tua voz.
Secarei como o feno.
Para ouvir tua voz.