Poemas sobre Serras de Fernando Namora

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Poemas de serras de Fernando Namora. Leia este e outros poemas de Fernando Namora em Poetris.

Terra – 3

Eles subiram o monte com o povo arrebanhado
e padre-nossos nos lĂĄbios.
Eles subiram o monte e eram negros, grandiosos e medonhos.
Vinham de longe e diziam duma verdade nos lĂĄbios firmes e finos.
Vinham de longe, de MissÔes do cabo do mundo;
– da África? dos Brasis? – vinham de longe…
E ficou aquela cruz branca e esguia
erguida na serra.
SermÔes na igreja, comunhão geral
e procissĂŁo na rua.
Cristo, na cruz do alto, protegendo a freguesia – Hosana!
Terra e gente ficaram santos nesse dia – Hosana!
Hoje, todos sentem aqueles olhos parados lĂĄ do cimo
– caminheiros da serra, viajante da estrada –
todos sentem os olhos lĂĄ do cimo
– olhar imĂłvel e indiferente
daqueles que subiram o monte.

Terra – 7

Onde ficava o mundo?
SĂł pinhais, matos, charnecas e milho
para a fome dos olhos.
Para lĂĄ da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os rios?
Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois e hå poças de chuva.
Onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia julgar.
Mas vieram engenheiros e mĂĄquinas estranhas.
Em cada dia o povo abraçava um outro povo.
E hoje a terra é livre e fåcil como o céu das aves:
a estrada branca e menina Ă© uma serpente ondulada
e dela nasce a sede da fuga como as ĂĄguas dum rio.