Poemas sobre Sol de Vítor Matos e Sá

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Devo-te

Devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo Ă  lavada
planície do céu.

Devo-te a forma
novĂ­ssima de olhar
teu corpo onde Ă s vezes
desce o pudor o silĂŞncio
de uma pálpebra mais nada.

Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesĂ­aca, doce
violĂŞncia dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silĂŞncio
das coisas – estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pĂłlen
levĂ­ssimo do dia;
estas formigas na sombra
da prĂłpria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisĂ­vel, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta – Ăł meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mĂŁos!

Amo-te Sempre

Amo-te sempre
com um pouco de barco e de vento
com uma humildade de mar Ă  tua volta
dentro do meu corpo; com o desespero
de ser tempo;

com um pouco de sol e uma fonte
adormecida na ternura.

Merecer este minuto de palavras habitando
o que há sem fim no teu retrato;
Este mesmo minuto em que chegam e partem navios
– nesta mesma cidade deste
minuto, desta lĂ­ngua, deste
romance diário dos teus olhos –

(e chegarĂŁo com armas? refugiados? trigo?
partirão com noivas? missionários? guerras? discursos?)

Merecer a densa beleza do teu corpo
que tem água e ternura, células, penumbra,
que dormiu no berço, dormiu na memória,
que teve soluços, febre, e absurdos desejos
maiores que os braços,

merecer os dias subindo das florestas – e vĂŞm
banhar-se, lentos, nos teus olhos…

Merecer a Igreja, o ajoelhar das palavras,
entre estes cinemas visitando, em duas horas, a alma,
estes eléctricos parando atrás do infinito
para subirem os namorados, a viĂşva, o cobrador da luz, a
costureira
entre estes homens que ganham dinheiro,

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