Poemas sobre TĂ©dio de Fernanda de Castro

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Poemas de tédio de Fernanda de Castro. Leia este e outros poemas de Fernanda de Castro em Poetris.

SilĂȘncio, Nostalgia…

SilĂȘncio, nostalgia…
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.

Luz de Outono, fria, fria…
Hora inĂștil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silĂȘncio ou nostalgia.

InterminĂĄvel dia
de indizíveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?

DistĂąncia

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pĂ© de mim…
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que nĂŁo tinham fim.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d’antes,
E se nas tuas mĂŁos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Tenho medo
Do silĂȘncio pesado d’esta sala…
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nĂłs dois…
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Fica. Inda Ă© tĂŁo cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!

NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!…
Paira nas velhas ruĂ­nas do convento

Que além se avista,

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Alegria

De passadas tristezas, desenganos
amarguras colhidas em trinta anos,
de velhas ilusÔes,
de pequenas traiçÔes
que achei no meu caminho…,
de cada injusto mal, de cada espinho
que me deixou no peito a nĂłdoa escura

duma nova amargura…
De cada crueldade
que pĂŽs de luto a minha mocidade…
De cada injusta pena
que um dia envenenou e ainda envenena
a minha alma que foi tranquila e forte…
De cada morte
que anda a viver comigo, a minha vida,
de cada cicatriz,
eu fiz
nem tristeza, nem dor, nem nostalgia
mas herĂłica alegria.

Alegria sem causa, alegria animal
que nenhum mal
pode vencer.
Doido prazer
de respirar!
VolĂșpia de encontrar
a terra honesta sob os pés descalços.

Prazer de abandonar os gestos falsos,
prazer de regressar,
de respirar
honestamente e sem caprichos,
como as ervas e os bichos.
Alegria voluptuosa de trincar
frutos e de cheirar rosas.

Alegria brutal e primitiva
de estar viva,
feliz ou infeliz
mas bem presa Ă  raĂ­z.

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