Poemas sobre Terra de Cabral do Nascimento

3 resultados
Poemas de terra de Cabral do Nascimento. Leia este e outros poemas de Cabral do Nascimento em Poetris.

Natal… Natais…

Tu, grande Ser,
Voltas pequeno ao mundo.
NĂŁo deixas nunca de nascer!
Com braços, pernas, mãos, olhos, semblante,
Voz de menino.
Humano o corpo e o coração divino.

Natal… Natais…
Tantos vieram e se foram!
Quantos ainda verei mais?

Em cada estrela sempre pomos a esperança
De que ela seja a mensageira,
E a sua chama azul encha de luz a terra inteira.
Em cada vela acesa, em cada casa, pressentimos
Como um anĂșncio de alvorada;
E ein cada ĂĄrvore da estrada
Um ramo de oliveira;
E em cada gruta o abrigo da criança omnipotente;

E no fragor do vento falas de anjos, e no vĂĄcuo
De silĂȘncio da noite
Estriada de sĂșbitos clarĂ”es,
A presença de Alguém cuja forma é precåria
E a sua essĂȘncia, eterna.
Natal… Natais…
Tantos vieram e se foram!
Quantos ainda verei mais?

Natal

Se alguém por mim passou,
O seu caminho foi.
Nenhuma dor me dĂłi;
Neste canto me isolo;
DĂĄ-me tanto consolo
Saber que apenas sou!

Reduz-se tudo a isto:
SuavĂ­ssimo perfume
De heliotrĂłpio morto.
Traz-me tanto conforto
Saber que sĂł existo
Aqui, junto do lume!

E o vento que, lĂĄ fora,
Deita as folhas em terra,
NĂŁo me abala sequer.
Ah, quanto bem encerra
A minha ideia, agora,
De estar num canto, e ser?

Natal Africano

NĂŁo hĂĄ pinheiros nem hĂĄ neve,
Nada do que Ă© convendonal,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz… Mas Ă© Natal.

Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical.
Plantas da flora mais estranha,
Aves da fauna tropical.

Nem luz, nem cores, nem lembranças
Da hora Ășnica e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte Ă© sempre igual.

NĂŁo hĂĄ pastores nem ovelhas,
Nada do que Ă© tradicional.
As oraçÔes, porém, são velhas
E a noite Ă© Noite de Natal.