Branco e Vermelho
A dor, forte e imprevista,
Ferindo-me, imprevista,
De branca e de imprevista
Foi um deslumbramento,
Que me endoidou a vista,
Fez-me perder a vista,
Fez-me fugir a vista,
Num doce esvaimento.
Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Fez-se em redor de mim.Todo o meu ser, suspenso,
NĂŁo sinto jĂĄ, nĂŁo penso,
Pairo na luz, suspenso…
Que delĂcia sem fim!
Na inundação da luz
Banhando os céus a flux,
No ĂȘxtase da luz,
Vejo passar, desfila
(Seus pobres corpos nus
Que a distancia reduz,
Amesquinha e reduz
No fundo da pupila)
Na areia imensa e plana
Ao longe a caravana
Sem fim, a caravana
Na linha do horizonte
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana…
A inĂștil dor humana!
Marcha, curvada a fronte.
Até o chão, curvados,
Exaustos e curvados,
VĂŁo um a um, curvados,
Escravos condenados,
No poente recortados,
Em negro recortados,
Magros, mesquinhos, vis.
A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
Poemas sobre Terror de Camilo Pessanha
2 resultados Poemas de terror de Camilo Pessanha. Leia este e outros poemas de Camilo Pessanha em Poetris.
Voz Débil que Passas
Voz débil que passas,
Que humĂlima gemes
NĂŁo sei que desgraças…
Dir-se-ia que pedes.
Dir-se-ia que tremes,
Unida Ă s paredes,
Se vens, Ă s escuras,
Confiar-me ao ouvido
NĂŁo sei que amarguras…
Suspiras ou falas?
Porque Ă© o gemido,
O sopro que exalas?
Dir-se-ia que rezas.
Murmuras baixinho
NĂŁo sei que tristezas…
_ Ser teu companheiro? _
NĂŁo sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.
_ Passados amores? _
Animas-te, dizes
NĂŁo sei que terrores…
Fraquinha, deliras.
_ Projetos felizes? _
Suspiras. Expiras.