Poemas sobre Tradução de Rabindranath Tagore

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Poemas de tradução de Rabindranath Tagore. Leia este e outros poemas de Rabindranath Tagore em Poetris.

Ă€ Espera do Amado Desconhecido

Quem Ă© esta mulher,
a sempre triste,
que vive no meu coração?
Quis conquistá-la mas não consegui.

Adornei-a com grinaldas
e cantei em seu louvor…
Por um momento
bailou o sorriso no seu rosto,
mas logo se desvaneceu.

E disse-me cheia de pena:
— A minha alegria não está em ti.

Comprei-lhe argolas preciosas,
abanei-a
com leques recamados de diamantes,
deitei-a em cama de oiro …
Bateu as pálpebras
como um relâmpago de alegria
que logo se apagou.

E disse-me cheia de pena:
— Não está nessas coisas a minha alegria.

Sentei-a num carro de triunfo,
e passeei-a por toda a terra.
Milhares de corações conquistados
caíram humildes a seus pés,
e as aclamações reboaram pelo cĂ©u…
Durante um momento
brilhou o orgulho nos seus olhos,
mas logo se desfez em lágrimas.

E disse cheia de pena:
— Não está na vitória a minha alegria..

Perguntei-lhe:
— Que queres então?
Respondeu-me:
— Espero alguém
que nĂŁo sei como se chama.

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Amor PacĂ­fico e Fecundo

NĂŁo quero amor
que nĂŁo saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor fresco e puro
como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até ao centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisĂ­vel,
até aos ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor
que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!

Tradução de Manuel Simões

A PrisĂŁo do Orgulho

Choro, metido na masmorra
do meu nome.
Dia apĂłs dia, levanto, sem descanso,
este muro Ă  minha volta;
e à medida que se ergue no céu,
esconde-se em negra sombra
o meu ser verdadeiro.

Este belo muro
Ă© o meu orgulho,
que eu retoco com cal e areia
para evitar a mais leve fenda.

E com este cuidado todo,
perco de vista
o meu ser verdadeiro.

Tradução de Manuel Simões

Cântico da Esperança

Não peça eu nunca
para me ver livre de perigos,
mas coragem para afrontá-los.

NĂŁo queira eu
que se apaguem as minhas dores,
mas que saiba dominá-las
no meu coração.

NĂŁo procure eu amigos
no campo da batalha da vida,
mas ter forças dentro de mim.

NĂŁo deseje eu ansiosamente
ser salvo,
mas ter esperança
para conquistar pacientemente
a minha liberdade.

NĂŁo seja eu tĂŁo cobarde, Senhor,
que deseje a tua misericĂłrdia
no meu triunfo,
mas apertar a tua mĂŁo
no meu fracasso!

Tradução de Manuel Simões

O CĂ©u e o Ninho

És ao mesmo tempo o céu e o ninho.

Meu belo amigo, aqui no ninho,
o teu amor prende a alma
com mil cores,
cores e mĂşsicas.

Chega a manhĂŁ,
trazendo na mĂŁo a cesta de oiro,
com a grinalda da formosura,
para coroar a terra em silĂŞncio!

Chega a noite pelas veredas nĂŁo andadas
dos prados solitários,
já abandonados pelos rebanhos!
Traz, na sua bilha de oiro,
a fresca bebida da paz,
recolhida
no mar ocidental do descanso.

Mas onde o céu infinito se abre,
para que a alma possa voar,
reina a branca claridade imaculada.
Ali não há dia nem noite,
nem forma, nem cor,
nem sequer nunca, nunca,
uma palavra!

Tradução de Manuel Simões

O Ăšltimo NegĂłcio

Certa manhĂŁ
ia eu pelo caminho pedregoso,
quando, de espada desembainhada,
chegou o Rei no seu carro.
Gritei:
— Vendo-me!
O Rei tomou-me pela mĂŁo e disse:
— Sou poderoso, posso comprar-te.
Mas de nada lhe serviu o seu poder
e voltou sem mim no seu carro.

As casas estavam fechadas
ao sol do meio dia,
e eu vagueava pelo beco tortuoso
quando um velho
com um saco de oiro Ă s costas
me saiu ao encontro.
Hesitou um momento, e disse:
— Posso comprar-te.
Uma a uma contou as suas moedas.
Mas eu voltei-lhe as costas
e fui-me embora.

Anoitecia e a sebe do jardim
estava toda florida.
Uma gentil rapariga
apareceu diante de mim, e disse:
— Compro-te com o meu sorriso.
Mas o sorriso empalideceu
e apagou-se nas suas lágrimas.
E regressou outra vez Ă  sombra,
sozinha.

O sol faiscava na areia
e as ondas do mar
quebravam-se caprichosamente.
Um menino estava sentado na praia
brincando com as conchas.
Levantou a cabeça
e,

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Ă€ Espera do Amado

Disse-me baixinho:
— Meu amor, olha-me nos olhos.
Ralhei-lhe, duramente, e disse-lhe:
— Vai-te embora.
Mas ele nĂŁo foi.
Chegou ao pĂ© de mim e agarrou-me as mĂŁos…
Eu disse-lhe:
— Deixa-me.
Mas ele nĂŁo deixou.

Encostou a cara ao meu ouvido.
Afastei-me um pouco,
fiquei a olhá-lo e disse-lhe:
— Não tens vergonha? Nem se moveu.
Os seus lábios roçaram a minha face.
Estremeci e disse-lhe:
— Como te atreves?
Mas ele nĂŁo se envergonhou.

Prendeu-me uma flor no cabelo.
Eu disse-lhe:
— É inútil.
Mas ele nĂŁo fez caso.
Tirou-me a grinalda do pescoço
e abalou.
Continuo a chorar,
e pergunto ao meu coração:
Porque Ă© que ele nĂŁo volta?

Tradução de Manuel Simões

A Mulher Inspiradora

Mulher, nĂŁo Ă©s sĂł obra de Deus;
os homens vĂŁo-te criando eternamente
com a formosura dos seus corações,
e os seus anseios
vestiram de glĂłria a tua juventude.

Por ti o poeta vai tecendo
a sua imaginária tela de oiro:
o pintor dá às tuas formas,
dia apĂłs dia,
nova imortalidade.

Para te adornar, para te vestir,
para tornar-te mais preciosa,
o mar traz as suas pérolas,
a terra o seu oiro,
sua flor os jardins do VerĂŁo.

Mulher, Ă©s meio mulher,
meio sonho.

Tradução de Manuel Simões

PaixĂŁo Secreta

Acordei com os primeiros pássaros,
já minha lâmpada morria.
Fui até à janela aberta e sentei-me,
com uma grinalda fresca
nos cabelos desatados…
Ele vinha pelo caminho
na névoa cor de rosa da manhã.
Trazia ao pescoço
uma cadeia de pérolas
e o sol batia-lhe na fronte.
Parou Ă  minha porta
e disse-me ansioso:
— Onde está ela?
Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, belo caminhante,
sou eu.

Anoitecia
e ainda nĂŁo tinham acendido as luzes.
Eu atava o cabelo, desconsolada.
Ele chegava no seu carro
todo vermelho, aceso pelo sol poente.
Trazia o fato cheio de poeira.
Fervia a espuma
na boca anelante dos seus cavalos…
Desceu Ă  minha porta
e disse-me com voz cansada:
— Onde está ela?
Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, fatigado caminhante,
sou eu.

Noite de Abril.
A lâmpada arde neste meu quarto
que a brisa do Sul
enche suavemente.
O papagaio palrador
dorme na sua gaiola.
O meu vestido Ă© azul
como o pescoço dum pavão,

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As Coisas TransitĂłrias

IrmĂŁo,
nada Ă© eterno, nada sobrevive.
Recorda isto, e alegra-te.

A nossa vida
nĂŁo Ă© sĂł a carga dos anos.
A nossa vereda
não é só o caminho interminável.
Nenhum poeta tem o dever
de cantar a antiga canção.
A flor murcha e morre;
mas aquele que a leva
nĂŁo deve chorá-la sempre…
IrmĂŁo, recorda isto, e alegra-te.

Chegará um silêncio absoluto,
e, então, a música será perfeita.
A vida inclinar-se-á ao poente
para afogar-se em sombras doiradas.
O amor há-de ser chamado do seu jogo
para beber o sofrimento
e subir ao cĂ©u das lágrimas …
IrmĂŁo, recorda isto, e alegra-te.

Apanhemos, no ar, as nossas flores,
nĂŁo no-las arrebate o vento que passa.
Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos
roubando beijos que murchariam
se os esquecĂŞssemos.

É ânsia a nossa vida
e força o nosso desejo,
porque o tempo toca a finados.
IrmĂŁo, recorda isto, e alegra-te.

Não podemos, num momento, abraçar as coisas,
parti-las e atirá-las ao chão.
Passam rápidas as horas,

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EgoĂ­smo

Fui sozinho Ă  minha entrevista,
Quem Ă© esse que me segue
na escuridĂŁo calada?

Afasto-me para ele passar,
mas nĂŁo passa.

Seu andar soberbo
levanta poeira,
sua voz forte
duplica a minha palavra.

Senhor,
Ă© o meu pobre eu!
Ele nĂŁo se importa com nada.
Mas como sinto vergonha
por ter de vir com ele
Ă  tua porta!

Tradução de Manuel Simões

Desejo Indomável

Como corre a gazela
pela sombra dos bosques,
enlouquecida pelo prĂłprio perfume,
assim corro eu, enlouquecido,
nesta noite do coração de maio
aquecida pela brisa do Sul.

Perdi o caminho
e erro ao acaso.
Quero o que nĂŁo tenho,
e tenho o que nĂŁo quero.

A imagem do meu prĂłprio desejo
sai do meu coração
e, dançando diante de mim,
cintila uma e outra vez,
subitamente.

Quero agarrá-la, mas escapa-se.
E, já longe, chama-me outra vez
do atalho …
Quero o que nĂŁo tenho
e tenho o que nĂŁo quero.

Tradução de Manuel Simões