Um homem esperto não comete erros menores
Passagens sobre Erros
707 resultadosNão há Relação entre as Verdades e o Tempo
A relação das verdades com o tempo não é positiva, mas negativa, é um simples não ter que ver com o tempo em nenhum sentido, é ser por completo alheias a toda a qualificação temporal, é manter-se rigorosamente anacrónicas. Dizer, pois, que as verdades o são sempre não envolve, falando de modo rigoroso, menor impropriedade que se dissermos – para usar uma famoso exemplo trazido por Leibniz a outro propósito -, «justiça verde». O corpo ideal da justiça não oferece um encaixe nem um orifício onde possa enganchar-se o atributo «verdosidade», e todas as vezes em que pretendamos inseri-lo naquele, outras tantas o veremos resvalar sobre a justiça – como sobre uma área polida. A nossa vontade de unir estes dois conceitos fracassa, e, ao dizê-los juntos, permanecem obstinadamente separados, sem possível adesão nem conjugação. Não existe, pois, heterogeneidade maior que a que existe entre o modo de ser atemporal constituitivo das verdades e o modo de ser temporal do sujeito humano que as descobre e pensa, conhece ou ignora, rejeita ou esquece.
Se, não obstante, usamos essa maneira de dizer – «as verdades são-no sempre» -, é porque praticamente isto não leva a consequências erróneas: é um erro inocente e cómodo.
Aprender a Ceder
Aos sonhos, como aos pesadelos, chega sempre a hora de acordar. É essencial compreender a realidade, viver de olhos abertos, acolher a simplicidade da vida antes de querer resolver a complexidade do mundo.
Cada um de nós tem o seu lugar no mundo, talvez a ninguém caiba o do centro. Nas nossas relações com o mundo, com os outros e connosco, é mais sábio aceitar do que impor, admirar do que exibir, amar do que procurar ser amado…
Viver é aprender a ceder. A libertarmo-nos de nós mesmos. Só o nosso espírito nos pode soltar porque só ele nos aprisiona. Ser autenticamente feliz depende de uma transformação na forma de olharmos o mundo, aceitando-o sem grandes condições e agindo sem precipitações. Cedendo. Cedendo, sempre. Pois que é melhor manter um amigo do que ficar com a razão, mas sozinho. Há que abrir espaços em nós para que a serenidade que assim se alcança convide a felicidade a fazer do nosso espírito morada sua.A humildade e a simplicidade são formas de ser, não de parecer.
Um erro comum é querer ser tudo já. Nunca nada chega… e são tantas vezes as saudades a revelarem-nos o verdadeiro valor dos instantes vividos mas já passados.
O maior erro que você pode cometer na vida é o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum.
Os erros mais breves são sempre os melhores.
Não julgue pelo que ouviu dizer. Afira, com convicção, para formar juízo de valor. Boatos existem e devem ser considerados como tal. Ao julgar sem embasamento pode-se cometer o mais abominável dos erros.
Estamos a Cair na Mediocridade Governativa
Estamos a cair na mediocridade porque estamos muito subservientes aos padrões de eficácia e da racionalidade europeia. Os tempos festivos da revolução passaram. Teriam naturalmente que passar, mas aplica-se a terapêutica da racionalização tecnocrática e isso mata o sonho. Devia haver outras vias. Vias apropriadas àquilo que somos. Não somos um País de grandes voos capitalistas. Se o quisermos ser caímos, inexoravelmente, nas garras do monopolismo. Portanto, devíamos cultivar as pequenas e médias empresas. Esta devia ser a lógica da economia portuguesa. Devia dar-se grande valor às pequenas e médias empresas e realmente deixarmo-nos de ambições que nos alcem aos grandes padrões europeus.
(…) Os (partidos políticos têm) os mesmos defeitos e algumas qualidades em comum. Evidentemente que os partidos são um defeito necessário, porque dividem, mas é uma divisão necessária para agrupar, para reunir a ideia da democracia parlamentar que temos. Agora, o erro das pessoas é adorná-los com méritos extraordinários, porque isso faz-nos cair numa partidolatria, imprópria de espíritos livres! Não penso que a nossa classe política seja pior do que a classe política de outros países. Ponhamos as coisas neste pé: as minhas exigências estéticas e éticas não tornam muito fáceis as minhas relações com a classe política.
Muitas vezes nossa maneira de justificar um erro agrava o erro.
Que erro será esse? E que necessidade tinha ele de vir lançar-me este enigma no coração?
Ninguém está sujeito a maior número de faltas e erros do que aqueles que se regem unicamente pela reflexão.
O erro acontece de vários modos, enquanto ser correcto é possível apenas de um modo.
Os erros de grandes homens… são mais fecundos que as verdades de pequenos.
O ?puro espírito? é uma pura estupidez: retire o sistema nervoso e os sentidos, o chamado ?envoltório mortal?, e o resto é um erro de cálculo ? isso é tudo!?
A felicidade é uma obra-prima: o menor erro falseia-a, a menor hesitação altera-a, a menor falta de delicadeza desfeia-a, a menor palermice embrutece-a.
A Incapacidade de Amar Alguém
Para falar com franqueza, não considero grave a incapacidade de amar alguém. O que significa amar? Na sua maioria, as pessoas coabitam sem necessidade de um sentimento que desconhecem até ao momento em que o leem num romance ou o veem num filme. O facto de, à partida, não sabermos o que é, indica talvez que se trata de algo que não existe dentro de nós, que nos é inculcado, ou que importamos. Se não estou em erro, era um velho filósofo francês que dizia que, quando um homem exprime o muito que ama a senhora marquesa, o muito que aprecia a sua inteligência — como é harmoniosa nos seus movimentos, que ideias tão extraordinárias tem, que sensibilidade tão requintada exibe —, aquilo que realmente quer dizer é que está doido por foder com ela. Julgo que há aí alguma verdade. Confundimos empatia ou compaixão com desejo, julgamos querer acarinhar, proteger, quando na verdade queremos penetrar, violar.
Crónica de Natal
Todos os anos, por esta altura, quando me pedem que escreva alguma coisa sobre o Natal, reajo de mau modo. «Outra vez, uma história de Natal! Que chatice!» — digo. As pessoas ficam muito chocadas quando eu falo assim. Acham que abuso dos direitos que me são conferidos. Os meus direitos são falar bem, assim como para outros não falar mal. Uma vez, em Paris, um chauffeur de táxi, desses que se fazem castiços e dizem palavrões para corresponder à fama que têm, aborreceu-me tanto que lhe respondi com palavrões. Ditos em francês, a mim não me impressionavam, mas ele levou muito a mal e ficou amuado. Como se eu pisasse um terreno que não era o meu e cometesse um abuso. Ele era malcriado mas eu – eu era injusta. Cada situação tem a sua justiça própria, é isto é duma complexidade que o código civil não alcança.
Mas dizia eu: «Outra vez o Natal, e toda essa boa vontade de encomenda!» Ponho-me a percorrer as imagens que são de praxe, anjos trombeteiros, pastores com capotes de burel e meninos pobres do tempo da Revolução Industrial inglesa. Pobres e explorados, mas, entretanto, não excluídos do trato social através dos seus conflitos próprios,
Na vida nunca se deveria cometer duas vezes o mesmo erro. Há bastante por onde escolher.
Temo bastante que as boas pessoas tragam bastantes males a este mundo. O seu grande erro é, sem dúvida, o de darem tanta importância ao mal.
A moral é um erro útil, mais explícito do que muitos outros, por ter parecido aos maiores e mais livres promotores dela que uma mentira assim era mesmo necessária.
O erro não se torna verdade por multiplicar-se na crença de muitos, nem a verdade se torna erro por ninguém a ver…