O ruído que faz a grande fama também faz com que o grande seja de todos roído, quando nas asas da fama se vê mais sublimado.
Passagens de António Vieira
387 resultadosOrdinariamente vemos grandes resplendores, onde não há luz, e grandes luzes sem nenhum resplendor.
A fortuna com o que dá, faz grandes e o ânimo com o que despreza, faz grandiosos.
Obra-se mal não só quando se obra, nem só quando se aconselha, senão também quando se permite.
As Lágrimas e os Homens
Vede que misteriosamente puseram as lágrimas nos olhos a Natureza, a Justiça, a Razão, a Graça. A Natureza para remédio; a Justiça para castigo; a Razão para arrependimento; a Graça para triunfo. Como pelos olhos se contrai a mácula do pecado, pôs a Natureza nos olhos as lágrimas, para que com aquela água se lavassem as manchas: como pelos olhos se admite a culpa, pôs a Justiça nos olhos as lágrimas para que estivesse o suplício no mesmo lugar do delito: como pelos olhos se concebe a ofensa, pôs a Razão nos olhos as lágrimas, para que onde se fundiu a ingratidão, a desfizesse o arrependimento: e como pelos olhos entram os inimigos à alma, pôs a Graça nos olhos as lágrimas, para que pelas mesmas brechas onde entraram vencedores, os fizesse sair correndo. Entrou Jonas pela boca da baleia pecador; saía Jonas pela boca da baleia arrependido. Razão é logo e Justiça, e não só Graça, senão Natureza, que pois os olhos são a fonte universal de todos os pecados, sejam os rios de suas lágrimas a satisfação também universal de todos; e que paguem os olhos por todos chorando, já que pecaram em todos vendo: Quo fonte manavit nefas,
A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.
Os governos são para fazer bem com o pão próprio, e não para acrescentar os bens com o pão alheio.
A maior capacidade que criou a natureza foi a do coração humano.
O não ter respeito a alguns, é procurar, como a morte, a universal destruição de todos.
A maior gula da natureza racional é o desejo de saber.
O tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade.
Nenhum homem há que não dê pelo pão e ao pão todo o seu cuidado.
Antes de ver o fim não se pode fazer juízo.
Quem diz o que entende, tão fora está de mentir, que antes mentiria se fizesse o contrário.
Em todas as outras coisas o deixar de ser é sinal de que já foram; no amor o deixar de ser é sinal de nunca ter sido.
O homem incapaz de julgar, por um lado, nem vê o que é melhor nem o aprova; por outro, aprova o que é pior e segue-o como se fosse o melhor.
Mais arriscada foi sempre a boa que a má fama, porque as grandes prendas são muito ruidosas, e muitas vezes foi reclamo para o perigo mais certo o mais estrondoso ruído.
Em nenhuma parte tanto como em Portugal se gasta tanto papel, ou se gasta tanto em papéis.
Sendo tão natural ao homem o desejo de ver, o apetite de ser visto é muito maior.
A Cegueira da Governação
Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências,