Poemas sobre Vida de Vinicius de Moraes

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Poemas de vida de Vinicius de Moraes. Leia este e outros poemas de Vinicius de Moraes em Poetris.

Namorados do Mirante

Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
A Remontavam às origens — a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie — tudo mais tinha morrido.
CaĂ­am lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas na magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.

Eles eram mais antigos que o silĂŞncio…

A Mulher que Passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio Ă© um campo de lĂ­rios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! Como Ă©s linda, mulher que passas
que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos sĂŁo poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pĂŞlos leves sĂŁo relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Porque me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que nĂŁo voltas, mulher que passa?
Por que nĂŁo enches a minha vida?
Por que nĂŁo voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que nĂŁo voltas Ă  minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

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Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
MĂŁos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silĂŞncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite Ă© jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.