Poemas sobre Vozes de Alfredo Brochado

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Poemas de vozes de Alfredo Brochado. Leia este e outros poemas de Alfredo Brochado em Poetris.

Senhora, porque me Deixas?

Senhora, porque me deixas,
Quando eu te nĂŁo deixei?
Se me deixas, minhas queixas
A quem Ă© que eu as farei?

Senhora do meu deserto,
Com alegria, ou tristeza,
Mostra o caminho mais certo
Ă€ minha grande incerteza.

Que a tua boca me diga
Segredos, intimidades.
Que a tua voz seja amiga
De quem nĂŁo tem amizades.

Porque me deixas, senhora,
Depois de ver-te a meu lado?
Em vez disso melhor fora
Nunca te haver encontrado.

Senhora porque me deixas
Com o teu perfil esguio?
Se me deixas, minhas queixas
A quem Ă© que eu as confio?

Ex-Voto

Anda a tua saudade ao pé de mim,
E porque a tenho já por companheira,
Eu começo a pensar, e penso, enfim,
Que te hei-de ver um dia Ă  minha beira.

Posso lá acreditar que toda a tua esperança,
O teu grande desejo de viver,
Hão-de caber num berço de criança!
Eu posso lá pensar em nunca mais te ver!

Posso lá acreditar que no ingrato caminho
Da minha vida que esta dor consome,
Nunca mais te hei-de ouvir, mesmo baixinho,
Pronunciar o meu nome!

Posso lá acreditar que a infinita poesia,
Que descia, ao falares, da tua voz,
NĂŁo seja agora mais do que uma sinfonia,
A pairar, a vibrar, longe de nĂłs!

Posso lá acreditar! Então a vida,
O que era para mim, assim, o que era?
Ah! NĂŁo valia a pena ser vivida,
E nĂŁo chegava mesmo a ser uma quimera!

Misticismo

Há dias, ao passar nas alamedas
Da minha terra, ao darem as trindades,
Pisando folhas, como velhas sedas,
Com os meus olhos cheios de saudades,

Há dias, quando eu fui nem sei por onde,
Entre lírios e tristes açucenas,
Ă€s horas em que o sol de nĂłs se esconde,
E repicam os sinos Ă s novenas,

Há dias, quando eu fui na tarde exangue,
Ouvindo a minha voz interior,
Faziam recordar gotas de sangue
Os derradeiros raios do sol-pĂ´r.

Bendita sejas, tarde harmoniosa,
Tarde da minha fé e do meu desejo,
Branda como uma pétala de rosa,
Ou como o aroma de um antigo beijo.