Passagens sobre Vez

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Frases sobre vez, poemas sobre vez e outras passagens sobre vez para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Os romancistas, pela descrição demasiado exacta das suas personagens, atrapalham a imaginação em vez de a servir; deveriam deixar que cada leitor figurasse cada uma delas como lhe aprouvesse.

Originalidade Medíocre

Não procureis a originalidade. Ela acompanha, o mais das vezes, inteligências medíocres. Só tem direito de ser original quem não procura sê-lo. O génio não é feito apenas de originalidade. Esta precisa de ser a expressão do pensamento ou da aspiração universal. A originalidade, por si só, é qualidade negativa; precisa de juntar-se a outra para ter valor, e este valor dependerá da qualidade positiva que a acompanha.

Ages Impelido por Mil Coisas

Dizes-te livre e todos os dias ages impelido por mil coisas. Vês uma mulher e ama-la, morres de amor por ela; serás livre de acalmar esse sangue que pulsa, de serenar essa cabeça ardente, de refrear esse coração, de aplacar esses ardores que te devoram? Serás livre de pensar? Mil cadeias te retêm, mil aguilhões te impelem, mil entraves te fazem parar. Vês um homem pela primeira vez, há um dos seus traços que te choca, e durante a tua vida sentes aversão por esse homem, que talvez tivesses amado se tivesse o nariz mais pequeno. Tens mau estômago, e és brutal para com aquele que terias acolhido com benevolência. E de todos estes factos derivam, ou neles se encadeiam, também fatalmente, outras séries de factos, de que outros derivam por sua vez.

Canção da Inocência Perdida

1

O que a minha mãe dizia
Não pode ser bem verdade:
Que uma vez emporcalhada
Nunca passa a sujidade.
Se isto não vale pra a roupa
Também não vale pra mim.
Que o rio lhe passe por cima
Breve fica branca, assim.

2

Como qualquer pataqueira
Aos onze anos já pecava.
Mas só ao fazer catorze
O meu corpo castigava.
A roupa já estava parda,
No rio a fui mergulhar.
No cesto está virginal
C’mo sem ninguém lhe tocar.

3

Sem ter conhecido algum
Já eu tinha escorregado.
Fedia aos Céus, como uma
Babilónia de pecado.
A roupa branca no rio
Enxaguada à roda, à roda,
Sente que as ondas a beijam:
«Volta-me a brancura toda».

4

Quando o primeiro me amou
Abracei-o eu também.
Senti no ventre e no peito
Ir-se a maldade pra além.
Assim acontece à roupa
E a mim acontecerá.
A água corre depressa,
Sujidade diz: Vem cá!

5

Mas quando os outros vieram
Um ano mau começou.

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No seu ponto mais alto, a filosofia é uma criação perfeitamente similar à criação artística ou religiosa ou amorosa; quem não tem nervos de artista, força de imaginação e quem não tem ao seu dispor uma vida rica pode ser professor de Filosofia, mas duvido que chegue alguma vez aos planos em que vale realmente a pena ser filósofo.

Luta de Classes

Não contem comigo para defender o elitismo cultural. Pelo contrário, contem comigo para rebentar cada detalhe do seu preconceito.
A cultura é usada como símbolo de status por alguns, alfinete de lapela, botão de punho. A raridade é condição indispensável desse exibicionismo. Só pertencendo a poucos se pode ostentar como diferenciadora. Essa colecção de símbolos é descrita com pronúncia mais ou menos afectada e tem o objectivo de definir socialmente quem a enumera.
Para esses indivíduos raros, a cultura é caracterizada por aqueles que a consomem. Assim, convém não haver misturas. Conheço melhor o mundo da leitura, por isso, tomo-o como exemplo: se, no início da madrugada, uma dessas mulheres que acorda cedo e faz limpeza em escritórios for vista a ler um determinado livro nos transportes públicos, os snobs que assistam a essa imagem são capazes de enjeitá-lo na hora. Começarão a definir essa obra como “leitura de empregadas de limpeza” (com muita probabilidade utilizarão um sinónimo mais depreciativo para descrevê-las).
Este exemplo aplica-se em qualquer outra área cultural que possa chegar a muita gente: música, cinema, televisão, etc. Aquilo que mais surpreende é que estes “argumentos”, esta forma de falar e de pensar seja utilizada em meios supostamente culturais por indivíduos supostamente cultos,

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As Oscilações da Personalidade

Pretender que a nossa personalidade seja móvel e susceptível de grandes mudanças é, por vezes, noção um pouco contrária às idéias tradicionais atinentes à estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutível. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictícia.
O nosso “eu” é um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada célula concorre para a unidade de um exército. A homogeneidade dos milhares de indivíduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inútil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, é porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivíduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu império, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensível sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”,

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Espaços em Branco

Ao fim da noite, no frio do táxi, pousas
a cabeça no meu ombro – e assim entramos
duma vez e inteiramente na nossa vida.
Lá fora, pelo contrário, tudo perde realidade;

há em toda a parte um sossego abstracto,
as ruas parecem pintadas – betão entre
as árvores – numa tela baça. Vamos por lugares
que não reconheço, a minha geografia é vaga

e omissa como a dos velhos cartógrafos
que desenhavam um mundo cheio de espaços
em branco. É onde estamos agora, num
intervalo do mapa rente à primeira manhã –

que será a nossa e também a última.

A Vaidade de Obrar Bem

De todas as paixões, a que mais se esconde, é a vaidade; e se esconde de tal sorte, que a si mesma se oculta, e ignora: ainda as acções mais pias nascem muitas vezes de uma vaidade mística, que quem a tem, não a conhece, nem distingue: a satisfação própria, que a alma recebe, é como um espelho em que nos vemos superiores aos mais homens pelo bem que obramos, e nisso consiste a vaidade de obrar bem.

Nós nunca sabemos bem o que a nossa memória vai reter – e não raras vezes damos por nós surpreendidos com uma recordação inútil, tirada de um filme série B ou apenas de um dia sem inspiração (mas que, apesar disso, nos repovoa sempre que determinada situação se repete).

Quando tinha cerca de quinze anos, li «Crime e Castigo». Creio que tive então, pela primeira vez, a sensação do que era um romance ou do que podia chegar a ser, e nunca tive dúvidas de que essa foi a experiência que me determinou a ser o que sou.

A verdade é que quando você volta, eu mando você ir embora de novo. E quando você vai embora, eu quero que você volte mais uma vez.