Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objectivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.
Passagens de Jean-Jacques Rousseau
133 resultadosOusarei expor aqui a mais importante, a maior, a mais útil regra de toda a educação? É não ganhar tempo, mas perdê-lo.
Morro aos poucos em todos aqueles que gostam de mim.
O Amor-Próprio como Fonte de Todos os Males
É preciso não confundir o amor-próprio e o amor de si mesmo, duas paixões muito diferentes pela sua natureza e pelos seus efeitos. O amor de si mesmo é um sentimento natural que leva todo o animal a velar pela sua própria conservação, e que, dirigido no homem pela razão e modificado pela piedade, produz a humanidade e a virtude. O amor-próprio é apenas um sentimento relativo, factício e nascido na sociedade, que leva cada indivíduo a fazer mais caso de si do que de qualquer outro, que inspira aos homens todos os males que se fazem mutuamente, e que é a verdadeira fonte da honra.
Bem entendido isso, repito que, no nosso estado primitivo, no verdadeiro estado de natureza, o amor-próprio não existe; porque, cada homem em particular olhando a si mesmo como o único espectador que o observa, como o único ser no universo que toma interesse por ele, como o único juiz do seu próprio mérito, não é possível que um sentimento que teve origem em comparações que ele não é capaz de fazer possa germinar na sua alma.
Pela mesma razão, esse homem não poderia ter ódio nem desejo de vingança, paixões que só podem nascer da opinião de alguma ofensa recebida.
Não há Felicidade Solitária
É a fraqueza do homem que o torna sociável; são as nossas misérias comuns que levam os nossos corações a interessar-se pela humanidade: não lhe deveríamos nada, se não fôssemos homens. Todos os afectos são indícios de insuficiência: se cada um de nós não tivesse necessidade dos outros, nunca pensaria em unir-se a eles. Assim, da nossa própria enfermidade, nasce a nossa frágil felicidade. Um ser verdadeiramente feliz é um ser solitário; só Deus goza de uma felicidade absoluta; mas qual de nós faz uma ideia do que isso seja? Se algum ser imperfeito se pudesse bastar a si mesmo, de que desfrutaria ele, na nossa opinião? Estaria só, seria miserável. Não posso acreditar que aquele que não precisa de nada possa amar alguma coisa: não acredito que aquele que não ama nada se possa sentir feliz.
Sou escravo pelos meus vícios e livre pelos meus remorsos.
A arte de interrogar é bem mais a arte dos mestres do que as dos discípulos; é preciso ter já aprendido muitas coisas para saber perguntar aquilo que se não sabe.
Ninguém quer o bem público que não está de acordo com o seu.
Os homens falam do que sabem; as mulheres do que lhes agrada.
Coração Mais Forte que o Dever
Nas alturas em que o meu dever e o meu coração estavam em contradição, o primeiro raramente saiu vitorioso, a menos que bastasse eu abster-me; então, na maioria das vezes, eu era forte, mas sempre me foi impossível agir contra o meu feitio. Quer sejam os homens, o dever, ou mesmo a fatalidade quem comanda, sempre que o meu coração se cala, a minha vontade fica surda, e eu não sou capaz de obedecer. Vejo o mal que me ameaça e deixo-o chegar, em vez de agir para o evitar. Começo por vezes com esforço, mas esse esforço cansa-me e depressa me esgota, e não sou capaz de continuar. Em todas as coisas imagináveis, aquilo que não faço com prazer logo se me torna impossível de levar a cabo.
O suicídio é um roubo ao género humano.
O louvor mais lisonjeiro para a mulher é o mal que se diz das outras.
A Moderação é o Caminho para a Felicidade
Se a princípio a profusão e a variedade de diversões parecem contribuir para a felicidade, se a uniformidade de uma vida igual parece a princípio enfastiante, considerando-se melhor, percebe-se, pelo contrário, que o hábito mais doce da alma consiste numa moderação de gozo que deixa pouco espaço ao desejo e ao desgosto.
Mentir sem Prejudicar
Julgar os discursos dos homens através dos efeitos que produzem equivale frequentemente a apreciá-los mal. Tais efeitos, para além de nem sempre serem sensíveis e fáceis de conhecer, variam infinitamente, tal como as circunstâncias em que esses discursos são proferidos.
A intenção daquele que os profere, porém, é a única que permite apreciá-los e que determina o seu grau de malícia ou de bondade. Proferir afirmações falsas só é mentir quando existe intenção de enganar, e mesmo essa intenção, longe de se aliar sempre à de prejudicar, tem por vezes um objectivo oposto. Todavia, para tornar inocente uma mentira, não basta que a intenção de prejudicar não seja expressa, é necessário também ter a certeza de que o erro em que se induz aqueles a quem se fala não poderá prejudicá-los a eles nem a ninguém, seja de que maneira for. É raro e difícil ter-se essa certeza e, por isso, é difícil e raro que uma mentira seja perfeitamente inocente.
Geralmente aqueles que sabem pouco falam muito e aqueles que sabem muito falam pouco.
A arte de interrogar não é tão fácil como se pensa. É mais uma arte de mestres do que de discípulos; é preciso ter aprendido muitas coisas para saber perguntar o que não se sabe.
Toda a Ideia Geral é Puramente Intelectual
As ideias gerais só se podem introduzir na espécie com o auxílio das palavras, e o entendimento não as apreende senão por meio das proposições. É uma das razões por que os animais não poderiam formar tais ideias, nem jamais adquirir a perfectibilidade que delas depende. Quando um macaco vai, sem hesitar, de uma noz a outra, julga-se que tenha a ideia geral dessa espécie de fruta e que compare o seu arquétipo a esses dois indivíduos? Não, sem dúvida; mas, a vista de uma dessas nozes lembra à sua memória as sensações que recebeu da outra, e os seus olhos, modificados de certa maneira, anunciam ao seu gosto a modificação que vai receber. Toda a ideia geral é puramente intelectual; por pouco que a imaginação tome parte nela, a ideia torna-se, logo, particular.
Procurai traçar a imagem de uma árvore em geral, e jamais o conseguireis; contra a vossa vontade, é preciso vê-la grande ou pequena, desgalhada ou em copa, clara ou escura; e, se dependesse de vós não ver senão o que se acha em toda a árvore, essa imagem não se pareceria mais com uma árvore. Os seres puramente abstractos vêem-se do mesmo modo, ou não se concebem senão por meio do discurso.
A força fez os primeiros escravos, a sua cobardia perpetuou-os.
A felicidade é um estado demasiado constante, e o homem, um ser demasiado mutável para que convenham um ao outro.
Então somos feitos para morrer presos na borda do poço para onde a verdade se retirou?