Sonetos sobre Amantes de Anibal Beça

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Sonetos de amantes de Anibal Beça. Leia este e outros sonetos de Anibal Beça em Poetris.

Profissão De Fé

Meu verso quero enxuto mas sonoro
levando na cantiga essa alegria
colhida no compasso que decoro
com pés de vento soltos na harmonia.

Na dança das palavras me enamoro
prossigo passional na melodia
amante da metáfora em meus poros
já vou vagando em vasta arritmia .

No vôo aliterado sigo o rumo
dos mares mais remotos navegados
e em faias de catraias me consumo.

É meu rito subscrito e bem firmado
sem o temor do velho e seu resumo
num eterno retorno renovado.

Mulher De Sede Sedenta

Finge a mulher que não se quer vulcão
num eufemismo frágil de inverdade.
Onde existiu fogueira, abrasação,
basta um sopro na lenha da saudade.

A sede que se faz sede serena
chega filtrada em gotas bem dosadas
regando tantos tântalos na cena
roubando-a como amante acalorada.

O verde que queimaste já não conta
pela falta madura dessas montas
na pressa sem primícias do alunado.

Hoje não. Os chamados escolhidos
são bem poucos, didáticos bandidos
que não querem morrer sem ser matados.

Chuva De Fogo

Meus olhos vão seguindo incendiados
a chama da leveza nesta dança,
que mostra velho sonho acalentado
de ver a bailarina que me alcança

os sentidos em febre, inebriados,
cativos do delírio e dessa trança.
É sonho, eu sei. E chega enevoado
na mantilha macia da lembrança:

o palco antigo, as luzes da ribalta,
renascença da graça do seu corpo,
balé de sedução, mar que me falta

para o mergulho calmo de um amante,
que se sabe maduro de esperar
essa viva paixão e seu levante.

Cantares Bacantes IV

São Mateus bebo teu verbo
conjugado na tintura,
semi-breve partitura
na regência d’um Efebo.

Ocarina chora uvas
esmagadas no sermão,
e esconde no coração
gotas vermelhas de chuvas.

Um pombo pousa na taça
evangelho vivo de asas:
traz ao bico, verde salsa.

A boa nova rascante
que me entra pela boca
doce beijo da amante.