Sonetos sobre Vulcões

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Sonetos de vulcões escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

NĂŁo sei, Amor, sequer, se te Consinto

NĂŁo sei, amor, sequer, se te consinto
ou se te inventas, brilhas, adormeces
nas palavras sem carne em que te minto
a verdade intemida em que me esqueces.

NĂŁo sei, amor, se as lavas do vulcĂŁo
nos lavam, veras, ou se trocam tintas
dos olhos ao cabelo ou coração
de tudo e de ti mesma. NĂŁo que sintas

outra coisa de mais que nos feneça;
mas sĂł nĂŁo sei, amor, se tu nĂŁo sabes
que sei de certo a malha que nos teça,

o vento que nos leves ou nos traves,
a mão que te nos dê ou te nos peça,
o princĂ­pio de sol que nos acabes.

Aos Meus Filhos

Na intermitĂŞncia da vital canseira,
Sois vĂłs que sustentais ( Força Alta exige-o … )
Com o vosso catalĂ­tico prestĂ­gio,
Meu fantasma de carne passageira!

VulcĂŁo da bioquĂ­mica fogueira
Destruiu-me todo o orgânico fastĂ­gio …
Dai-me asas, pois, para o Ăşltimo remĂ­gio,
Dai-me alma, pois, para a hora derradeira!

Culminâncias humanas ainda obscuras,
Expressões do universo radioativo,
Ions emanados do meu prĂłprio ideal,

Benditos vĂłs, que, em Ă©pocas futuras,
Haveis de ser no mundo subjetivo,
Minha continuidade emocional!

Mulher De Sede Sedenta

Finge a mulher que nĂŁo se quer vulcĂŁo
num eufemismo frágil de inverdade.
Onde existiu fogueira, abrasação,
basta um sopro na lenha da saudade.

A sede que se faz sede serena
chega filtrada em gotas bem dosadas
regando tantos tântalos na cena
roubando-a como amante acalorada.

O verde que queimaste já não conta
pela falta madura dessas montas
na pressa sem primĂ­cias do alunado.

Hoje nĂŁo. Os chamados escolhidos
são bem poucos, didáticos bandidos
que nĂŁo querem morrer sem ser matados.

DantĂŁo

Parece-me que o vejo iluminado.
Erguendo delirante a grande fronte
– De um povo inteiro o fĂşlgido horizonte
Cheio de luz, de idéias constelado!

De seu crânio vulcĂŁo – a rubra lava
Foi que gerou essa sublime aurora
– Noventa e trĂŞs – e a levantou sonora
Na fronte audaz da populaça brava!

Olhando para a histĂłria – um sĂ©culo e a lente
Que mostra-me o seu crânio resplandente
Do passado atravĂ©s o vĂ©u profundo…

Há muito que tombou, mas inquebrável
De sua voz o eco formidável
Estruge ainda na razĂŁo do mundo!

Raios não Peço ao Criador do Mundo

LX

Raios não peço ao Criador do Mundo,
Tormentas nĂŁo suplico ao Rei dos Mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

NĂŁo rogo ao deus de amor que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo.

Não imploro em teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.

Maldição

Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
– Hoje, velha e cansada da amargura,
Minh’alma se abrirá como um vulcĂŁo.

E, em torrentes de cĂłlera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silĂŞncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidĂŁo…

Maldita sejas pelo Ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!…

Parece Que Nasceste, Oh! Pálida Divina

Parece que nasceste, oh! pálida divina,
Para seres o farol, a luz das puras almas!…
Parece que ao estridor, ao frĂŞmito das palmas
Exalças-te feliz a plaga cristalina!…

Parece que se partem, angélica Bambina,
As campas glaciais dos Tassos e dos Talmas,
Lá quando no tablado as turbas sempre calmas
Transmutas em vulcĂŁo, em raio que fulmina!…

E quando majestosa, em lance sublimado
Dardejas do olhar, olĂ­mpico, sagrado
Mil chispas ideais, titânicas, ardentes!…

EntĂŁo sente-se n’alma o trĂŞmulo nervoso
Que deve ter o mar, fantástico, espumoso
Nos grossos vagalhões, indĂ´mitos, frementes!!…