Raios não Peço ao Criador do Mundo

LX

Raios não peço ao Criador do Mundo,
Tormentas nĂŁo suplico ao Rei dos Mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

NĂŁo rogo ao deus de amor que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo.

Não imploro em teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.