Sonetos sobre Casos de Cláudio Manuel da Costa

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Sonetos de casos de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.

LXXIV

Sombrio bosque, sĂ­tio destinado
À habitação de um infeliz amante,
Onde chorando a mágoa penetrante
Possa desafogar o seu cuidado;

Tudo quieto está, tudo calado;
Não há fera, que grite; ave, que cante;
Se acaso saberás, que tens diante
Fido, aquele pastor desesperado!

Escuta o caso seu: mas nĂŁo se atreve
A erguer a voz; aqui te deixa escrito
No tronco desta faia em cifra breve:

Mudou-se aquele bem; hoje Ă© delito
Lembrar-me de Marfisa; era mui leve:
Não há mais, que atender; tudo está dito.

LXXXI

Junto desta corrente contemplando
Na triste falta estou de um bem que adoro;
Aqui entre estas lágrimas, que choro,
Vou a minha saudade alimentando.

Do fundo para ouvir-me vem chegando
Das claras hamadrĂ­ades o coro;
E desta fonte ao murmurar sonoro,
Parece, que o meu mal estĂŁo chorando.

Mas que peito há de haver tão desabrido,
Que fuja Ă  minha dor! que serra, ou monte
Deixará de abalar-se a meu gemido!

Igual caso nĂŁo temo, que se conte;
Se até deste penhasco endurecido
O meu pranto brotar fez uma fonte.