Sonetos sobre EssĂȘncia de Augusto dos Anjos

5 resultados
Sonetos de essĂȘncia de Augusto dos Anjos. Leia este e outros sonetos de Augusto dos Anjos em Poetris.

Revelação

I

Escafandrista de insondado oceano
Sou eu que, aliando Buda ao sibarita,
Penetro a essĂȘncia plĂĄsmica infinita,
-MĂŁe promĂ­scua do amor e do Ăłdio insano!

Sou eu que, hirto, auscultando o absconso arcano,
Por um poder de acĂșstica esquisita,
Ouço o universo ansioso que se agita
Dentro de cada pensamento humano!

No abstrato abismo equĂłreo, em que me Inundo,
Sou eu que, revolvendo o ego profundo
E a ódio dos cérebros medonhos,

Restituo triunfalmente Ă  esfera calma
Todos os cosmos que circulam na alma
Sob a forma embriolĂłgica de sonhos!

Supreme Convulsion

O equilĂ­brio do humano pensamento
Sofre tambĂ©m a sĂșbita ruptura,
Que produz muita vez, na noite escura,
A convulsĂŁo meteĂłrica do vento.

E a alma o obnĂłxio quietismo sonolento
Rasga; e, opondo-se Ă  InĂ©rcia, Ă© a essĂȘncia pura,
É a sĂ­ntese, Ă© o transunto, Ă© a abreviatura
Do todo o ubiqĂŒitĂĄrio Movimento!

Sonho, – libertação do homem cativo –
Ruptura do equilĂ­brio subjetivo,
Ah! foi teu beijo convulsionador

Que produziu este contraste fundo
Entre a abundĂąncia do que eu sou, no Mundo,
E o nada do meu homem interior!

A MĂĄscara

Eu sei que hĂĄ muito pranto na existĂȘncia,
Dores que ferem coraçÔes de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
AĂ­ existe a mĂĄgoa em sua essĂȘncia.

No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitĂłria
O peito rompe a capa tormentĂłria
Para sorrindo palpitar contente.

Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.

E entre a mĂĄgoa que masc’ra eterna apouca
A humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida.

Ariana

Ela Ă© o tipo perfeito da ariana,
Branca, nevada, pĂșbere, mimosa,
A carne exuberante e capitosa
Trescala a essĂȘncia que de si dimana.

As nĂ­veas pomas do candor da rosa,
Rendilhando-lhe o colo de sultana,
Emergem da camisa cetinosa
Entre as rendas sutis de filigrana.

Dorme talvez. Em flĂĄcido abandono
Lembra formosa no seu casto sono
A languidez dormente da indiana,

Enquanto o amante pĂĄlido, a seu lado
Medita, a fronte triste, o olhar velado
No Mistério da Carne Soberana

PlenilĂșnio

Desmaia o plenilĂșnio. A gaze pĂĄlida
Que lhe serve de alvĂ­ssimo sudĂĄrio
Respira essĂȘncias raras, toda a cĂĄlida
MĂ­stica essĂȘncia desse alampadĂĄrio.

E a lua Ă© como um pĂĄlido sacrĂĄrio,
Onde as almas das virgens em crisĂĄlida
De seios alvos e de fronte pĂĄlida,
Derramam a urna dum perfume vĂĄrio.

Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctĂąmbula do Amor,
Eu, noctĂąmbulo da Dor e da Saudade.

Ah! como a branca e merencĂłrea lua,
TambĂ©m envolta num sudĂĄrio – a Dor,
Minh’alma triste pelos cĂ©us flutua!