Sonetos sobre Fanatismo

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Sonetos de fanatismo escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Sanhudo, Inexorável Despotismo

Sanhudo, inexorável Despotismo
Monstro que em pranto, em sangue a fúria cevas,
Que em mil quadros horríficos te enlevas,
Obra da Iniquidade e do Ateísmo:

Assanhas o danado Fanatismo,
Porque te escore o trono onde te enlevas;
Por que o sol da Verdade envolva em trevas
E sepulte a Razão num denso abismo.

Da sagrada Virtude o colo pisas,
E aos satélites vis da prepotência
De crimes infernais o plano gizas,

Mas, apesar da bárbara insolência,
Reinas só no ext’rior, não tiranizas
Do livre coração a independência.

À Discórdia

Pouco importa amarrar com mão valente
A Discórdia infernal, com cem cadeias,
Que ela tem subtilezas, tem ideias
De saber desligar-se facilmente.

De que serve lançar limpa semente
Em chão infecto, de zizânias feias,
De ervilhacas, lericas, joio, aveias,
Sem os campos limpar primeiramente?

Ninguém, té gora, à ligadura górdia
O nó soube desdar, que o vil Egoísmo
Empata as vazas à geral Concórdia.

Não se pode extinguir o Despotismo,
Nem acabar c’o império da Discórdia,
Sem cortar a raiz do Fanatismo.

Enquanto to Permite a Mocidade

Enquanto to permite a mocidade,
Teu Pai disfarça, tua Mãe consente,
E enquanto, Nize, a moda o não desmente
Nos brincos gasta a flor da tua idade.

Joga, dança, conversa, e a variedade,
Que causa tanta prenda, assombre a gente;
Deixa-te ver, que o Século presente
Hoje chama ao pudor rusticidade.

Os corações de quem te aplaude enlaça:
desfruta o tempo: e tem por aforismo
Que o gosto é fugitivo, a sorte escassa

Engolfa-te de amor no doce abismo;
Busca o prazer; a vida alegre passa;
Logra-te enfim; que o mais é fanatismo.