Uma Amiga
Aqueles que eu amei, nĂŁo sei que vento
Os dispersou no mundo, que os nĂŁo vejo…
Estendo os bracos e nas trevas beijo
VisĂ”es que a noite evoca o sentimento…Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos… que eu invejo…
Passam por mim… mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!Daquela primavera venturosa
NĂŁo resta uma flor so, uma so rosa…
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!Tu so foste fiel – tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes…
Para ver o meu mal… e escarnece-lo!
Sonetos sobre Gelo de Antero de Quental
3 resultadosEspiritualismo
I
Como um vento de morte e de ruĂna,
A DĂșvida soprou sobre o Universo.
Fez-se noite de sĂșbito, imerso
O mundo em densa e algida neblina.Nem astro jĂĄ reluz, nem ave trina,
Nem flor sorri no seu aéreo berço.
Um veneno subtil, vago, disperso,
Empeçonhou a criação divina.E, no meio da noite monstruosa,
Do silĂȘncio glacial, que paira e estende
O seu sudĂĄrio, d’onde a morte pende,SĂł uma flor humilde, misteriosa,
Como um vago protesto da existĂȘncia,
Desabroxa no fundo da ConsciĂȘncia.II
Dorme entre os gelos, flor imaculada!
Luta, pedindo um ultimo clarĂŁo
Aos sĂłis que ruem pela imensidĂŁo,
Arrastando uma aurĂ©ola apagada…Em vĂŁo! Do abismo a boca escancarada
Chama por ti na gĂ©lida amplidĂŁo…
Sobe do poço eterno, em turbilhão,
A treva primitiva conglobada…Tu morrerĂĄs tambĂ©m. Um ai supremo,
Na noite universal que envolve o mundo,
Ha-de ecoar, e teu perfume extremoNo vĂĄcuo eterno se esvairĂĄ disperso,
Como o alento final d’um moribundo,
Como o Ășltimo suspiro do Universo.
Uma Amiga
Aqueles que eu amei, nĂŁo sei que vento
Os dispersou no mundo, que os nĂŁo vejo…
Estendo os braços e nas trevas beijo
VisĂ”es que a noite evoca o sentimento…Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos… que eu invejo…
Passam por mim… mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!Daquela primavera venturosa
NĂŁo resta uma flor sĂł, uma sĂł rosa…
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!Tu sĂł foste fiel – tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes…
Para ver o meu mal… e escarnecĂȘ-lo!