Sonetos sobre Horas de Judith Teixeira

2 resultados
Sonetos de horas de Judith Teixeira. Leia este e outros sonetos de Judith Teixeira em Poetris.

Vatícinio

Hás-de beber as lágrimas sombrias
que nesta hora eu bebo soluçando!,
e o veneno das minhas ironias
há-de rasgar-te os tímpanos cantando!

Hás-de esgotar a taça de agonias
neste sabor a ódio… e, estertorando
hás-de crispar as tuas mãos vazias
de amor, como eu agora estou crispando!

E hás-de encontrar-me em teu surpreso olhar
com o mesmo sorriso singular
que a minha boca em certas horas tem.

E eu hei-de ver o teu olhar incerto
vagueando no intérmino deserto
dos teus braços tombados sem ninguém!

Volúpia

Era já tarde e tu continuavas
entre os meus braços trémulos, cansados…
E eu, sonolenta, já de olhos fechados,
bebia ainda os beijos que me davas!

Passaram horas!… Nossas bocas flavas,
Muito unidas, em haustos repousados,
Queimavam os meus sonhos macerados,
Como rescaldos de candentes lavas.

Veio a manhã e o sol, feroz, risonho,
entrou na minha alcova adormecida,
quebrando o lírio roxo do meu sonho…

Mas deslumbrou-se… e em rúbidos adejos
Ajoelhou-se… e numa luz vencida,
Sorveu… sorveu o mel dos nossos beijos!