Sonetos Interrogativos de Humberto de Campos

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O Milagre De Guaxenduba

Minha Terra natal, em Guaxenduba;
Na trincheira, em que o luso ainda trabalha,
A artilharia, que ao francês derruba,
Por três bocas letais pragueja e ralha.

O leão de França, arregaçando a juba,
Saltou. E o luso, como um tigre, o atalha.
Troveja a boca do arcabuz, e a tuba
Do índio corta o clamor e o medo espalha.

Foi então que se viu, sagrando a guerra,
Nossa Senhora, com o Menino ao colo,
Surgir lutando pela minha terra.

Foi-lhe vista na mão a espada em brilho…
(Pátria, se a Virgem quis assim teu solo,
Que por ti não fará quem for teu filho?)

Retrospecto

Vinte e seis anos, trinta amores: trinta
vezes a alma de sonhos fatigada.
e, ao fim de tudo, como ao fim de cada
amor, a alma de amor sempre faminta!

Ó mocidade que foges! brada
aos meus ouvidos teu futuro, e pinta
aos meus olhos mortais, com toda a tinta,
os remorsos da vida dissipada!

Derramo os olhos por mim mesmo… E, nesta
muda consulta ao coração cansado,
que é que vejo? que sinto? que me resta?

Nada: ao fim do caminho percorrido,
o ódio de trinta vezes ter jurado
e o horror de trinta vezes ter mentido!

África

Na partilha das sáfaras conquistas
Desta Líbia de mouros rancorosos,
O Deserto foi dado aos Poderosos
E o Oásis, florido e mínimo, aos Artistas.

E os felizes, quais são? Os mil sofistas
Da Ventura, a pedir, de olhos gulosos,
Terra e mais terra? Ou o que limita os gozos
E em sete palmos acomoda as vistas?

Certo, não sereis vós, ó Donatários
Do alvo Deserto, que velais, em guerra,
A áurea carga dos vossos dromedários.

Mas, tu, ó Poeta, que, por onde fores,
Teus sete palmos hás de achar na terra
Abrindo em trigo, rebentado em flores!

Pero Coelho

(Descobridor do Ceará)

Na umidade do cárcere de Olinda
– Enjaulado jaguar que a vida acaba
Lembrando a selva rumorosa e linda –
Sonha o conquistador da Ibiapaba.

O sonho é o resto da jornada: é a vinda;
E a morte; é a sede; é o desespero; a taba
Toda investindo. A terra em fogo. Um baba;
Outro cai; outro fica; outro se finda…

Dois filhos morrem nos seus braços: vede!
E nem, sequer, irmão de Agar, tem perto,
Nos olhos água que lhes mate a sede!

E, ao fim de tudo, acusações e gritas…
Ah! por que não tombara no Deserto
Abraçado com os seus israelitas!?…