Sonetos sobre RuĂ­na de Augusto dos Anjos

2 resultados
Sonetos de ruĂ­na de Augusto dos Anjos. Leia este e outros sonetos de Augusto dos Anjos em Poetris.

Psicologia De Um Vencido

Eu, filho do carbono e do amonĂ­aco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

ProfundĂ­ssimamente hipocondrĂ­aco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardĂ­aco.

já o verme – este operário das ruĂ­nas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e Ă  vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roĂŞ-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Ricordanza Della Mia GioventĂş

A minha ama-de-leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha, minha mĂŁe, ralhava…
Via naquilo a minha prĂłpria ruĂ­na!

Minha ama, entĂŁo, hipĂłcrita, afetava
Susceptibilidades de menina:
“- NĂŁo, nĂŁo fora ela -” E maldizia a sina,
Que ela absolutamente nĂŁo furtava.

Vejo, entretanto, agora, em minha cama,
Que a mim somente cabe o furto feito…
Tu sĂł furtaste a moeda, o oiro que brilha…

Furtaste a moeda sĂł, mas eu, minha ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para a tua filha!