Paisagem
Dorme sob o silĂȘncio o parque. Com descanso,
Aos haustos, aspirando o finĂssimo extrato
Que evapora a verdura e que deleita o olfato,
Pelas alas sem fim da årvores avanço.Ao fundo do pomar, entre folhas, abstrato
Em cismas, tristemente, um alvĂssimo ganso
Escorrega de manso, escorrega de manso
Pelo claro cristal do lĂmpido regato.Nenhuma ave sequer, sobre a macia alfombra,
Pousa. Tudo deserto. Aos poucos escurece
A campina, a rechĂŁ sob a noturna sombra.E enquanto o ganso vai, abstrato em cismas, pelas
Selvas a dentro entrando, a noite desce, desce…
E espalham-se no cĂ©u camandulas de estrelas…
Sonetos sobre SilĂȘncio
109 resultadosA Uma Dama Dormindo Junto A Uma Fonte
Ă margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pĂĄssaros cantores
A bela ocasiĂŁo das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.Mas como dorme SĂlvia, nĂŁo vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silĂȘncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia,Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pĂĄssaros fragrantes,
Nem seu Ăąmbar respira a rica Flora.PorĂ©m abrindo SĂlvia os dois diamantes,
Tudo a SĂlvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.
Interrogação
A Guido Batelli
Neste tormento inĂștil, neste empenho
De tornar em silĂȘncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados Ă garganta
Num clamor de loucura que contenho.Ă alma de charneca sacrossanta,
IrmĂŁ da alma rĂștila que eu tenho,
Dize pra onde vou, donde Ă© que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!VisÔes de mundos novos, de infinitos,
CadĂȘncias de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!Dize que mĂŁo Ă© esta que me arrasta?
NĂłdoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que Ă© que eu tenho sede e fome?!
Elegia para a AdolescĂȘncia
E enfim descansaremos sob a verde
resistĂȘncia dos campos escondidos.
Nem pensaremos mais no que hĂĄ-de ser de
nĂłs que entĂŁo seremos definidos.No mar que nos chamou, no mar ausente,
simples e prolongado que supomos
seremos atirados de repente,
puros e inĂșteis como sempre fomos.Veremos que as vogais e as consoantes
nĂŁo sĂŁo mais que ornamentos coloridos,
fruto de nossas bocas inconstantes.E em silĂȘncio seremos transformados,
quando formos, serenos e perdidos,
além das coisas vãs precipitados.
Soneto De Roma
Felizes os que chegam de mĂŁos dadas
como se fosse o instante da partida
e entre as fontes que jorram a ĂĄgua clĂĄssica
dĂŁo em silĂȘncio adeus Ă claridade.No dourado crepĂșsculo da tarde
o que nos dividiu agora Ă© soma
e a vida que te dei e que me deste
voa entre os pombos no fulgor de Roma.Todo fim é começo. A ågua da vida
eterna e musical sustenta o instante
que triunfa da morte nas ruĂnas.Como o verĂŁo sucede Ă neve fria
um sol final aquece o nosso amor,
devolução da aurora e luz do dia.
MĂșsica Da Hora
Habito a pausa no hĂĄbito da pauta
mĂșsica de silĂȘncios e soluços
a refrear desmandos dos impulsos
que se querem agudos sons de flauta.A vida Ă© toda mĂșsica em seu curso
do grito original em rima incauta
ao sussurro que se ouve em cama infausta
nesse fim dissonante do percurso.O tempo se encarrega do metrĂŽnomo
unido a dois ponteiros de um cronĂŽmetro
em que o delgado veste-se de momopara alegrar as horas do pequeno
que dança a marcha gris em chão sereno
fugindo ao dois por quatro do abandono.
Nos Teus Gestos
Nos teus gestos hĂĄ animais em liberdade
e o brilho doce que sĂł tĂȘm as cerejas.
à neles que adormeço, e dos teus dedos
retiro a luz azul dos arquipĂ©lagos.Os teus gestos sĂŁo letras, sĂlabas, poemas.
Os teus gestos sĂŁo pĂĄginas inteiras. SĂŁo
a tua boca a namorar na minha boca,
o cio dos séculos a saudar o tempo.São os teus gestos que me acordam. Gestos
que vestem o silĂȘncio fundo das ravinas
e assinalam a ĂĄgua dos desertos.Os teus gestos sĂŁo mĂșsica. SĂŁo lume.
São a respiração do teu olhar. A seara
de espigas que ondula no meu corpo.
Cruzada Nova
Vamos saber das almas os segredos,
Os cĂrculos patĂ©ticos da Vida,
Dar-lhes a luz do Amor compadecida
E defendĂȘ-las dos secretos medos.Vamos fazer dos ĂĄridos rochedos
Manar a ĂĄgua lustral e apetecida,
Pelos ansiosos coraçÔes bebida
No silĂȘncio e na sombra d’arvoredos.Essas irmĂŁs furtivas das estrelas,
Se nĂŁo formos depressa defendĂȘ-las,
MorrerĂŁo sem encanto e sem carinho.Paladinos da lĂmpida Cruzada!
Conquistemos, sem lança e sem espada,
As almas que encontrarmos no Caminho.
Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminheiPor ti deixei meu reino meu segredo
Minha rĂĄpida noite meu silĂȘncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraĂsoCĂĄ fora Ă luz sem vĂ©u do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempoPor isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento