Sonetos sobre Sol de Francisco de Vasconcelos Coutinho

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Sonetos de sol de Francisco de Vasconcelos Coutinho. Leia este e outros sonetos de Francisco de Vasconcelos Coutinho em Poetris.

A uns Olhos Negros

Olhos negros, que da alma sois senhores
Duvido com razĂŁo desse atributo,
Que Ă© muito, que quem mata, traga o luto,
E Ă© muito ver na noite resplendores:

Se de negros, meus olhos, tendes cores,
Como as almas vos dĂŁo hoje tributo.
Quem viu que os negros com rigor astuto
Os brancos prenda com grilhÔes traidores.

Mas ah, que foi discreta providĂȘncia
O fazĂȘ-lo da cor da minha sorte,
Por nĂŁo sentir rigor tĂŁo desabrido.

Para que veja assim toda a prudĂȘncia
Que foi prodĂ­gio grande, e pasmo forte,
Em duas noites ver o Sol partido.

À Fragilidade da Vida Humana

Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.

Esse nĂĄcar em cinzas desatado
Foi vistoso pavĂŁo de Abril florido;
Esse estio em vesĂșvios encendido
Foi ZĂ©firo suave em doce agrado.

Se a nau, o sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,

Olha, cego imortal, e considera
Que Ă©s rosa, primavera, sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incĂȘndio, estrago.