Sonetos sobre Som de Ariano Suassuna

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Lápide

(com tema de VirgĂ­lio, o Latino,
e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo)

Quando eu morrer, nĂŁo soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo ChĂŁo pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido

que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
Ă  tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!

Aqui Morava Um Rei

“Aqui morava um rei quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibĂŁo,
Pedra da Sorte sobre meu Destino,
Pulsava junto ao meu, seu coração.

Para mim, o seu cantar era Divino,
Quando ao som da viola e do bordĂŁo,
Cantava com voz rouca, o Desatino,
O Sangue, o riso e as mortes do SertĂŁo.

Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem meu guia
Que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua efĂ­gie me queima. Eu sou a presa.
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de Ouro em pasto ensanguentado.”