Sonetos sobre Tamanhos de Luís de CamÔes

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Apartava-Se Nise De Montano

Apartava-se Nise de Montano,
em cuja alma partindo-se ficava;
que o pastor na memĂłria a debuxava,
por poder sustentar-se deste engano.

Pelas praias do Índico Oceano
sobre o curvo cajado s’encostava,
e os olhos pelas ĂĄguas alongava,
que pouco se doĂ­am de seu dano.

Pois com tamanha mĂĄgoa e saudade
(dezia) quis deixar-me a que eu adoro,
por testemunhas tomo CĂ©u e estrelas.

Mas se em vĂłs, ondas, mora piedade,
levai também as lågrimas que choro,
pois assi me levais a causa delas!

Que Poderei Do Mundo JĂĄ Querer

Que poderei do mundo jĂĄ querer,
que naquilo em que pus tamanho amor,
nĂŁo vi senĂŁo `desgosto e desamor,
e morte, enfim, que mais nĂŁo pode ser!

Pois vida me nĂŁo farta de viver,
pois jĂĄ sei que nĂŁo mata grande dor,
se cousa hĂĄ que mĂĄgoa dĂȘ maior,
eu a verei; que tudo posso ver.

A morte, a meu pesar, me assegurou
de quanto mal me vinha; jĂĄ perdi
o que perder o medo me ensinou.

Na vida desamor somente vi,
na morte a grande dor que me ficou:
parece que para isto sĂł nasci!

Quem presumir, Senhora, de louvar-vos

Quem presumir, Senhora, de louvar-vos
Com humano saber, e nĂŁo divino,
FicarĂĄ de tamanha culpa dino
Quamanha ficais sendo em contemplar-vos.

Não pretenda ninguém de louvor dar-vos,
Por mais que raro seja, e peregrino:
Que vossa fermosura eu imagino
Que Deus a ele sĂł quis comparar-vos.

Ditosa esta alma vossa, que quisestes
Em posse pĂŽr de prenda tĂŁo subida,
Como, Senhora, foi a que me destes.

Melhor a guardarei que a prĂłpria vida;
Que, pois mercĂȘ tamanha me fizestes,
De mim serĂĄ jamais nunca esquecida.

Quis Deixar-me a que Eu Adoro

Apartava-se Nise de Montano,
Em cuja alma, partindo-se, ficava,
Que o pastor na memĂłria a debuxava,
Por poder sustentar-se deste engano.

Por Ć©a praia do Índico Oceano
Sobre o curvo cajado se encostava,
E os olhos pelas ĂĄguas alongava,
Que pouco se doĂ­am de seu dano.

Pois com tamanha mĂĄgoa e saudade,
(Dizia) quis deixar-me a que eu adoro,
Por testemunhas tomo céu e estrelas.

Mas se em vĂłs, ondas, mora piedade,
Levai também as lågrimas que choro,
Pois assim me levais a causa delas.

Quanto Mais vos pago, Mais vos Devo

Quem vĂȘ, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se nĂŁo perder a vista sĂł com vĂȘ-los,
JĂĄ nĂŁo paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecĂȘ-los,
Dei mais a vida e alma por querĂȘ-los;
Donde jĂĄ me nĂŁo fica mais de resto.

Assim que Alma, que vida, que esperança,
E que quanto for meu, Ă© tudo vosso:
Mas de tudo o interesse eu sĂł o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho, e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.

Fortuna Em Mim Guardando Seu Direito

Fortuna em mim guardando seu direito
em verde derrubou minha alegria.
Oh! quanto se acabou naquele dia,
cuja triste lembrança arde em meu peito!

Quando contemplo tudo, bem suspeito
que a tal bem, tal descanso se devia,
por nĂŁo dizer o mundo que podia
achar-se em seu engano bem perfeito.

Mas se a Fortuna o fez por descontar-me
tamanho gosto , em cujo sentimento
a memĂłria nĂŁo faz senĂŁo matar-me ,

que culpa pode dar-me o sofrimento,
se a causa que ele tem de atormentar-me,
eu tenho de sofrer o seu tormento?

Num Bosque Que Das Ninfas Se Habitava

Num bosque que das Ninfas se habitava
SĂ­lvia, Ninfa linda, andava um dia;
subida nĂŒa ĂĄrvore sombria,
as amarelas flores apanhava.

Cupido, que ali sempre costumava
a vir passar a sesta Ă  sombra fria,
num ramo o arco e setas que trazia,
antes que adormecesse, pendurava.

A Ninfa, como idĂłneo tempo vira
para tamanha empresa, nĂŁo dilata,
mas com as armas foge ao Moço esquivo.

As setas traz nos olhos, com que tira:
-Ó pastores! fugi, que a todos mata,
senĂŁo a mim, que de matar me vivo.

Em Flor Vos Arrancou, De EntĂŁo Crecida

Em flor vos arrancou, de entĂŁo crescida
(Ah! senhor dom AntĂłnio!), a dura sorte,
donde fazendo andava o braço forte
a fama dos Antigos esquecida.

ĂŒa sĂł razĂŁo tenho conhecida
com que tamanha mĂĄgoa se conforte:
que, pois no mundo havia honrada morte,
que nĂŁo podĂ­eis ter mais larga a vida.

Se meus humildes versos podem tanto
que co desejo meu se iguale a arte,
especial matéria me sereis.

E, celebrado em triste e longo canto,
se morrestes nas mĂŁos do fero Marte,
na memĂłria das gentes vivereis.

Em Fermosa Leteia Se Confia

Em fermosa Leteia se confia,
por onde vaidade tanta alcança,
que, tornada em soberba a confiança,
com os deuses celestes competia.

Porque nĂŁo fosse avante esta ousadia
(que nascem muitos erros da tardança),
em efeito puseram a vingança,
que tamanha doudice merecia.

Mas Oleno, perdido por Leteia,
nĂŁo lhe sofrendo Amor que suportasse
castigo duro tanta fermosura,

quis padecer em si a pena alheia;
mas, porque a morte Amor nĂŁo apartasse,
ambos tornados sĂŁo em pedra dura.