Em Busca Da Beleza VI
O sono – Oh, ilusĂŁo! – o sono? Quem
LograrĂĄ esse vĂĄcuo ao qual aspira
A alma que de aspirar em vĂŁo delira
E jĂĄ nem força para querer tem?Que sono apetecemos? O d’alguĂ©m
Adormecido na feliz mentira
Da sonolĂȘncia vaga que nos tira
Todo o sentir na qual a dor nos vem?IlusĂŁo tudo! Querer um sono eterno,
Um descanso, uma paz, nĂŁo Ă© senĂŁo
O Ășltimo anseio desesperado e vĂŁo.Perdido, resta o derradeiro inferno
Do tédio intérmino, esse de jå não
Nem aspirar a ter aspiração.
Sonetos sobre Ăltimos de Fernando Pessoa
3 resultadosFosse Eu Apenas, NĂŁo Sei Onde Ou Como
Fosse eu apenas, nĂŁo sei onde ou como,
Uma coisa existente sem viver,
Noite de Vida sem amanhecer
Entre as sirtes do meu dourado assomo….Fada maliciosa ou incerto gnomo
Fadado houvesse de nĂŁo pertencer
Meu intuito glorĂola com Ter
A ĂĄrvore do meu uso o Ășnico pomo…Fosse eu uma metĂĄfora somente
Escrita nalgum livro insubsistente
Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,Mas doente, e , num crepĂșsculo de espadas,
Morrendo entre bandeiras desfraldadas
Na Ășltima tarde de um impĂ©rio em chamas…
Venho De Longe E Trago No Perfil
Venho de longe e trago no perfil,
Em forma nevoenta e afastada,
O perfil de outro ser que desagrada
Ao meu actual recorte humano e vil.Outrora fui talvez, nĂŁo Boabdil,
Mas o seu mero Ășltimo olhar, da estrada
Dado ao deixado vulto de Granada,
Recorte frio sob o unido anil…Hoje sou a saudade imperial
Do que jĂĄ na distĂąncia de mim vi…
Eu prĂłprio sou aquilo que perdi…E nesta estrada para Desigual
Florem em esguia glĂłria marginal
Os girassĂłis do impĂ©rio que morri…