O Sentido de Possibilidade
Poderia definir-se o sentido de possibilidade como aquela capacidade de pensar tudo aquilo que tambĂ©m poderia ser e de nĂŁo dar mais importĂąncia Ă quilo que Ă© do que Ă quilo que nĂŁo Ă©. Como se vĂȘ, as consequĂȘncias desta disposição criadora podem ser notĂĄveis; infelizmente, nĂŁo Ă© raro que façam aparecer como falso aquilo que as pessoas admiram e como lĂcito aquilo que elas proĂbem, ou entĂŁo as duas coisas como sendo indiferentes. Esses homens do possĂvel vivem, como se costuma dizer, numa trama mais subtil, numa teia de nĂ©voa, fantasia, sonhos e conjuntivos; se uma criança mostra tendĂȘncias destas, acaba-se firmemente com elas, e diz-se-lhe que tais pessoas sĂŁo visionĂĄrios, sonhadores, fracos, gente que tudo julga saber melhor e em tudo pĂ”e defeito.
Quando se quer elogiar estes loucos, chama-se-lhes tambĂ©m idealistas, mas Ă© claro que com isso sĂł se alude Ă sua natureza dĂ©bil, incapaz de compreender a realidade, ou que a evita por melancolia, uma natureza na qual a falta do sentido de realidade Ă© um verdadeiro defeito. O possĂvel, porĂ©m, nĂŁo abarca apenas os sonhos dos neurastĂ©nicos, mas tambĂ©m os desĂgnios ainda adormecidos de Deus. Uma experiĂȘncia possĂvel ou uma verdade possĂvel nĂŁo sĂŁo iguais a uma experiĂȘncia real e uma verdade real menos o valor da sua realidade,
Textos sobre Finalidade de Robert Musil
2 resultadosOde à Criança
A criança Ă© criativa porque Ă© crescimento e se cria a si prĂłpria. Ă como um rei, porque impĂ”e ao mundo as suas ideias, os seus sentimentos e as suas fantasias. Ignora o mundo do acaso, prĂ©-elaborado, e constrĂłi o seu prĂłprio mundo de ideais. Tem uma sexualidade prĂłpria. Os adultos cometem um pecado bĂĄrbaro ao destruir a criatividade da criança pelo roubo do seu mundo, sufocando-a com um saber artificial e morto, e orientando-a no sentido de finalidades que lhe sĂŁo estranhas. A criança Ă© sem finalidade, cria brincando e crescendo suavemente; se nĂŁo for perturbada pela violĂȘncia, nĂŁo aceita nada que nĂŁo possa verdadeiramente assimilar; todo o objecto em que toca vive, a criança Ă© cosmos, mundo, vĂȘ as Ășltimas coisas, o absoluto, ainda que nĂŁo saiba dar-lhes expressĂŁo: mas mata-se a criança ensinando-a a ater-se a finalidades e agrilhoando-a a uma rotina vulgar a que, hipocritamente, se chama realidade.